Cisternas da Região Norte do Ceará estão quase cheias

A água da chuva é captada por um sistema simples, formado por canos e filtro, ligados por calha no telhado

Escrito por Marcelino Júnior - Colaborador ,
Legenda: A cisterna de enxurrada capta água das estradas para manter a plantação de hortaliças sempre verde
Foto: Foto: Marcelino Júnior

Santana do Acaraú. Em plena Quadra Chuvosa, o agricultor Francisco Edmilson Lira, morador do assentamento Alvaçan/Goiabeiras, na zona rural deste Município da Zona Norte do Estado, observa que a cisterna instalada ao lado de casa está quase cheia. O reservatório, feito de placas de concreto com capacidade para 16 mil litros.

A água da chuva é captada por um sistema simples, formado por canos e filtro, ligados por uma calha afixada no telhado. É utilizada para consumo e na elaboração das refeições. Um dos principais itens de sobrevivência de quem mora na zona rural, a cisterna faz parte da realidade das 176 famílias do assentamento. E, de acordo com o agricultor, que trabalha em sintonia com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município, "por meio das parcerias entre a Ematerce, a Cáritas Diocesana e outros apoiadores sociais do governo do Estado para essa causa da água, o Município está em fase de instalação de 1.170 cisternas, nos últimos anos", comemora.

Limpeza

A ciência deixada pelos agricultores mais antigos ensina que a água das duas primeiras chuvas deve ser desprezada, pois é ela que limpa os telhados arrastando toda a sujeira acumulada ao longo do período de estiagem. Após a desobstrução das calhas, o reservatório está pronto para uso, como afirma a apicultora Ana Maria de Sousa, também moradora da zona rural de Santana do Acaraú.

"Depois de feita a limpeza, eu já tenho aproveitado da água da cisterna. No ano passado, tive dificuldade de ter água em casa, por conta da pouca chuva. Neste ano, minha cisterna já está quase cheia. Como o inverno está começando, tenho certeza que a água acumulada vai sustentar minha família por todo o período seco", calcula a apicultora, vizinha do agricultor Expedito da Silva, que possui uma cisterna de enxurrada, tipo de reservatório instalado mais próximo da entrada das casas para aproveitar a água do escoamento superficial das estradas e caminhos. "Esse reservatório acumula cerca de 60 mil litros, que eu uso todo na horta, onde cultivo cebola, cheiro-verde, macaxeira, pimenta e outras hortaliças.

Parcerias

No setor seis, área rural do distrito de Jaibaras, a cerca de 8Km de Sobral, pintada de branco, a cisterna também se destaca, ao lado das residências. A da casa do jovem Matheus Oliveira, 17, já está quase cheia. "Aqui, são cinco pessoas que dependem da cisterna, tanto para beber, quanto para fazer comida. A água da chuva é excelente e, diferente do ano passado, acredito que, neste ano, com as chuvas que têm caído na região, o volume acumulado continue até o próximo inverno", espera o jovem, beneficiado com a instalação do reservatório há cerca de dois anos.

Ao todo, 35 comunidades rurais distribuídas nos 12 distritos de Sobral são assistidas pelo Projeto Paulo Freire, que pretende universalizar o acesso à água. Realizado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), a iniciativa é financiada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).

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Investimento

"Temos cerca de 3.500 agricultores cadastrados, que dependem desse tipo de reservatório. Esse acesso à água é resultado das parcerias entre o Poder Público Municipal; ONGs, que ganham as chamadas públicas do Estado; e outros entes públicos, além de igrejas, que participam do Comitê que aponta qual a demanda para a instalação desse tipo de equipamento", explica Pedro Pitombeira, gerente da Agricultura Familiar do Município.

De acordo com levantamento realizado pela SDA, neste ano, já foram instaladas no Estado, ao todo, 164 cisternas de placas e mais 93 de polietileno. "As cisternas de placa e de polietileno armazenam 16 mil litros de água de chuva. No fim da quadra chuvosa, com capacidade máxima, ela pode garantir água para uma família de cinco pessoas durante seis meses para as necessidades básicas, como beber e cozinhar", explica José Nelson Santiago, técnico da SDA.