Ceará é o Estado do Semiárido brasileiro que ficou mais verde

Pela imagem de satélite desta semana, é possível observar praticamente todo o Ceará verde

Escrito por Catarina de Oliveira Buriti - Especial para o Diário do Nordeste ,

Campina Grande (PB). Os cearenses podem comemorar, pois estão no Estado do Semiárido brasileiro onde a Caatinga alcançou maior nível de recuperação e desenvolvimento nos últimos meses. Isso ocorreu em função do volume de chuvas na região, durante o período de fevereiro a maio, tendo o mês de abril sido o mais chuvoso de 2018 no Estado.

Pela imagem de satélite desta semana, representada no quadro, é possível observar, em poucos segundos, praticamente todo o Ceará verde, ou seja, a cor demonstra a grande quantidade e vigor da vegetação da Caatinga no Estado, em resposta às condições climáticas favoráveis.

> Chuvas são registradas em 49 municípios do Noroeste

O mapa foi produzido de acordo com o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), realizado com técnicas de sensoriamento remoto, que permite a representação e a análise da condição da cobertura vegetal de uma determinada área ou região, sem que seja necessário o contato direto com ela. Ou seja, as informações são coletadas remotamente, por intermédio de satélites, cujos sensores são capazes de identificar se as folhas estão verdes, secas ou sob estresse hídrico moderado.

Esses dados de satélites são importantes para auxiliar no planejamento da agricultura familiar, atividade econômica predominante no Ceará, pois quando associados a informações de previsão climática, é possível identificar tendências e realizar prognósticos favoráveis ou não à produção agrícola.

Caatinga sem sinais de seca

As outras imagens de satélites no quadro comparam como estava a vegetação da Caatinga no início de março de 2018, e as mudanças ocorridas recentemente, no fim de abril. É possível identificar que, no mês de março, ainda havia pontos na cor vermelha ou laranja no mapa do Ceará, ou seja, existência, respectivamente, de seca ou situação de baixa umidade do solo.

O mapa de abril de 2018, obtido por imagem do satélite Meteosat-10, mostra poucas áreas secas na região. Vale destacar que, na parte Setentrional (Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba), os pontos em vermelho não representam seca, mas territórios em processo de desertificação.

No Maranhão, as áreas em vermelho correspondem aos Lençóis maranhenses. Na região oeste do Nordeste, consistem em cicatrizes das queimadas. Já no Semiárido de Alagoas, Sergipe e grande parte da Bahia, os sinais em vermelho ainda são predominantemente de seca, mas existem também respostas de áreas degradadas e áreas descobertas por vegetação em montanhas (solos expostos).

Sendo assim, o monitoramento por satélite realizado pelo Lapis mostra que, na última semana de abril, a resposta da vegetação à seca diminuiu consideravelmente em relação aos meses anteriores, com destaque à parte Setentrional do Nordeste, aonde os sinais de seca na vegetação praticamente não existem.

No livro "Um século de secas: por que as políticas hídricas não transformaram o Semiárido brasileiro?" (http://www.letrasambientais.com.br/sobre-livro), eu, Catarina de Oliveira Buriti e Humberto Alves Barbosa, aplicamos o NDVI ao monitoramento da maior "seca do século", ocorrida no período 2010-2016, no Semiárido brasileiro.

As informações obtidas e o mapeamento por satélite do extremo climático na região, com identificação da abrangência, severidade e duração, ano após ano, permitiu analisar criticamente as políticas hídricas implementadas pelos governos brasileiros, como capacidade de resposta governamental à seca.

Previsão climática

Segundo o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), a previsão climática para o mês de maio, no Ceará, é de um cenário extremamente chuvoso, em praticamente todo o território do Estado.

As chuvas no Ceará ocorrem em função da La Niña, um fenômeno caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico. Sua ocorrência gera uma série de mudanças significativas no regime de chuvas e temperaturas ao redor do mundo, com impactos diferentes para cada região.

No Ceará, assim como em todo o Nordeste Setentrional, o La Niña influencia na posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que provoca chuvas intensas no Estado.

Os primeiros efeitos da atual La Niña começaram a ser detectados em novembro do ano passado, com temperatura do Pacífico abaixo da normal. O fenômeno de intensidade fraca se manifestou por alguns meses deste ano e a previsão é de que, em junho, irá desaparecer.

Pesquisadores da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) e do Instituto Internacional de Pesquisa em Clima e Sociedade (IRI), dos Estados Unidos, bem como de agências brasileiras, confirmaram o encerramento da La Niña, no Oceano Pacífico, no fim deste outono (junho). Os modelos climáticos também indicaram período de neutralidade de fenômenos La Niña ou El Niño, para o inverno de 2018, ou seja, para o período de junho a setembro.

A partir de setembro, as previsões ainda não foram definidas, estando ainda incerto o que realmente irá ocorrer (El Niño, La Niña ou neutralidade), embora haja uma tendência maior de a La Niña retornar. Vamos ter que esperar mais um pouco pela resposta dos oceanos Pacífico e Atlântico, pois os meteorologistas somente conseguem prever, com até quatro meses de antecedência, o aparecimento de algum desses fenômenos. Até então, os cearenses poderão usufruir da condição de viver no Estado do Semiárido com Caatinga mais verde.

* Catarina de Oliveira Buriti é jornalista, doutora em História, assessora de Imprensa do Instituto Nacional do Semiárido (Insa)e co-autora do livro "Um século de secas: por que as políticas hídricas não transformaram o Semiárido brasileiro?".