Casa do Capitão Mor conta um pouco da formação de Sobral

A edificação foi a primeira a ser erguida no povoado que deu origem ao Município do Norte do Estado

Escrito por Marcelino Júnior - Colaborador ,
Legenda: A Casa é um dos poucos imóveis com características do século XVIII
Foto: Fotos: Marcelino Júnior

Sobral. Localizado no Núcleo da Sé, um dos trechos do Centro Histórico de Sobral, no Norte do Estado, o Centro de Referência Cultural e Histórica: Casa do Capitão-Mor foi a primeira edificação erguida, por volta de 1772, no que é considerado o primeiro núcleo habitacional do processo de desenvolvimento urbano de Sobral. A casa ainda é um dos poucos imóveis do Centro Histórico que apresenta referências de como era a arquitetura do século XVIII, o que remete à ocupação do sertão cearense e suas sucessivas mudanças, até os dias de hoje.

Em 2007, o imóvel, que teve resgatada parte de sua estrutura, abriu suas portas à visitação pública. De segunda a sexta-feira, grupos de estudantes ou visitantes que queiram conhecer um pouco mais da história da formação da cidade se encontram para um passeio de quase uma hora. Com apoio de um guia, a visita pode se estender por outros pontos da cidade que fazem parte do complexo arquitetônico e cultural, tão bem preservado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Complexo

O equipamento faz parte de um trabalho que busca fortalecer seu espaço como Centro de Referência da Cultura e da história local, com a realização de atividades educativas, oficinas, palestras e exposições. Nesse sentido, segundo Edilberto Florêncio dos Santos, gerente de Patrimônio e Museus da Secretaria de Cultura de Sobral, as ações têm buscado estruturar uma nova relação com a cultura e a história do povo sobralense, por meio da memória e patrimônio, compreendidos como elementos importantes nos processos de identificação da comunidade.

"A Casa remete, não apenas à ocupação do início da Cidade, mas se vincula a todo um complexo de museus, como o Madi, com cerca de 70 obras doadas por artistas do mundo inteiro; a Pinacoteca, um espaço que trabalha com artes plásticas e esculturas; o Museu do Eclipse, voltado à difusão da ciência; e o Museu Dom José, de arte sacra, que não é vinculado à Secretaria de Cultura, mas compõe esses importantes equipamentos pertencentes ao Município", enumera.

Visitação

Foi com alegria que a estudante universitária Galgânia Cavalcante participou, mais uma vez, de visita ao lugar. Aluna do curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), ela circulou com os amigos de sala por entre os diversos espaços da Casa. A visita foi iniciada com a apresentação de um vídeo sobre a reestruturação do prédio que, em 2001, foi submetido a uma pesquisa arqueológica pela equipe do Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Depois, a turma acompanhou uma curadora, que falou sobre a história do lugar e apresentou os objetos expostos.

"Eu fiquei fascinada com o resgate histórico desse lugar. O que sempre me chama a atenção, além da própria história de criação da cidade, é a preservação de alguns materiais da antiga fundação da Casa. Fico imaginando que tipo de pessoas moraram aqui, com o passar dos anos, e quais seriam os seus costumes. Virei mais vezes", garantiu a jovem estudante.

Ao longo da investigação científica desencadeada pelas escavações arqueológicas realizadas na casa, foram revelados alguns aspectos, tanto da vida cotidiana dos que habitaram a residência, como da identificação física de vários materiais empregados em sua construção, ou até mesmo de utilidade diária dos moradores antigos.

Resgates

Durante o trabalho, foram resgatadas algumas peças, danificadas pela ação do tempo, mas com significativo valor histórico, como pedaços de louça: pratos, xícaras e canecas, além de talheres e outras peças utilizadas na cozinha e demais cômodos.

Um dos objetivos das escavações arqueológicas foi o de garantir a preservação do testemunho que a edificação, em cada uma de suas ocupações, deixou para os dias de hoje, recuperando, não apenas o patrimônio material, mas também parte da realidade do cotidiano da cidade, que possa ter escapado à história oficial, remontada nos livros e nos meios de comunicação atuais.

"Aqui, desenvolvemos várias atividades educativas. Então, quando as pessoas vão embora, elas sempre levam um pouco mais da história da formação da cidade. A visitação, estendida ao complexo histórico, que engloba outras edificações, também traz mais conhecimento ao visitante", garante Maria Gabriela Ripardo, uma das responsáveis por direcionar as visitas.

Premiação

O Centro de Referência Cultural e Histórica de Sobral: Casa do Capitão-Mor, por meio da Escola de Cultura, Comunicação, Ofícios e Artes (Ecoa) de Sobral, recebeu, em julho de 2016, o prêmio nacional Modernização de Museus-Microprojetos 2014, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), do Ministério da Cultura.

À época, foram premiadas 20 iniciativas, no País, que fomentam o desenvolvimento de ações destinadas à preservação e difusão do patrimônio museológico. Ocupando o 16º lugar nacional, a premiação permitiu o estudo, catalogação e organização do acervo arqueológico do equipamento, além da difusão ao público, por ações educativas que fortalecem o interesse e a apropriação do patrimônio museológico da Casa do Capitão- Mor, como elemento da cultura, história e identidade.

Enquete

O que você achou dessa visita?

"Eu achei maravilhosa, porque cada cômodo ou peça nos remete ao passado, à nossa formação histórica e cultural. A Casa também apresenta um pouco da influência econômica dos antigos moradores"

Jéssica Cavalcante
Estudante

"Eu achei importante porque a Casa apresenta um pouco da história dos primeiros habitantes e de como eles viviam. Durante o passeio, pude aprender mais sobre os costumes daquela época"

Elton da Silva Sousa
Estudante