Caravana celebrará martírio de jesuíta pioneiro no Ceará

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:
Os Jesuítas cumpriram papel relevante na origem da colonização do Ceará. Padre Francisco Pinto foi um dos pioneiros

Fortaleza. Celebrar os 400 anos da missão evangelizadora dos jesuítas no Ceará, relembrando o martírio contra um dos padres, Francisco Pinto, realizado no dia 11 de janeiro de 1608, na Serra da Ibiapaba, enquanto celebrava uma missa. É com este objetivo que será realizada a “Caravana em busca das origens da fé”. O evento está sendo organizado pelo padre Luiz Furtado, de Fortaleza. Sairá da Capital na sexta-feira e voltará no domingo.

De acordo com o padre Luiz Furtado, o martírio do padre Francisco Pinto aconteceu ao pé da Serra da Ibiapaba. “Mas tivemos que escolher um local, então decidimos celebrar a data no município de Ubajara, onde se supõe, em razão da veneração de populares, ter acontecido o primeiro sepultamento do padre Pinto”, comentou.

Segundo Padre Luiz, no documento “Relações do Maranhão”, o padre Luis Figueira, companheiro do pe. Pinto, relata como foi a viagem dos dois com mais 60 índios. Descreve, ainda, o assassinato do sacerdote e como Figueira escapou.

Restos mortais

De acordo com o site http://www.portalmessejana.com.br, o Barão de Studart, na “Revista do Instituto Histórico do Ceará”, Tomo XXXVIII, na seca de 1612, os índios do Jaguaribe, acreditando que o padre Pinto, por milagre, poderia fazer chover, foram à Ibiapaba, examinaram-lhe os ossos e “os trouxeram para umas aldeias de índios. O chefe Potiguara, Felipe Camarão, beijou e abraçou reverentemente os despojos e fez construir uma igrejinha especial para onde foram levados num andor em procissão e ali sepultados” (esta igrejinha parece ser a primeira igreja de Messejana no local onde, hoje, é uma loja comercial). No entanto, padre Luiz Furtado acredita que essa seja mais uma hipótese sobre o fato. “Não se pode ter certeza”, considera.

Programação eclética

Qualquer pessoa pode participar da caravana. Conforme a coordenadora do evento, Joana Angélica, o grupo sairá de Fortaleza às 6h30, da Praça da Igreja do Cristo Rei, em frente ao Colégio Militar. “Vai ser uma programação eclética, com atividades culturais, religiosas, ambiental e física. Será colocada, em Ubajara, uma placa de granito comemorativa à data”, comentou Joana.

Ao chegar no município de Ubajara, após o almoço, será realizada uma “via sacra” pelas ruas da cidade, às 15 horas. Depois, às 17 horas, acontecerá uma missa campal. Ao final, será dramatizado o martírio e, em seguida, haverá um momento de lazer.

A programação continua no dia 12, quando a caravana vai até à cidade de Viçosa do Ceará. Na Igreja Matriz deste município, às 9 horas, padre Luiz celebrará uma missa. Após a celebração, o grupo fará uma visita por Viçosa. Depois do almoço, retorna para Ubajara, onde, à noite, será rezado um terço e, posteriormente, padre Luis fará um resumo dos fatos históricos. A caravana se encerra no dia 13, com uma visita à gruta de Ubajara. O retorno para a Capital será às 14h30.

Padre Luis Furtado, administrador da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Conjunto Jereissati I, em Maracanaú, está tendo o apoio do bispo diocesano de Tianguá, dom Francisco Javier Hernández Arnedo, e do pároco de Ubajara, padre José Olívio.

Primeira missa

A celebração em memória dos 400 anos das primeiras Missões no Ceará está sendo realizada desde o ano passado. No dia 2 de fevereiro de 2007, padre Luis Furtado quis relembrar a data fazendo uma celebração, da mesma forma e no mesmo local onde foi feita a primeira missa do Estado, pelos padres jesuítas Francisco Pinto e Luis Figueira.

Dessa forma, reuniu um grupo e foi até o município de Fortim e, na foz do Rio Jaguaribe, repetiu a atitude dos padres. “Houve uma procissão das velas, ele fincou a cruz na areia da praia. Cerca de 60 pessoas participou da missa”, contou Joana. Em Ubajara, serão mostradas imagens deste primeiro evento comemorativo.

Evelane Barros
Repórter

SAIBA MAIS
Nascimento

O padre Francisco Pinto nasceu em Angras, Ilha dos Açores, Portugal, no ano de 1552. De pais nobres, embarcou ainda menino com a família para o Brasil. Foi criado em Pernambuco até os 17 anos, quando transferiu-se para a Bahia, onde entrou para a Companhia de Jesus em 31 de Outubro de 1568.

Missões

Passados os anos do noviciado e estudos, recebeu a ordenação e o convite para o trabalho nas Missões. Foi coadjutor espiritual, fazendo a formatura no ano de 1588.

Conversão

O interesse pelo trabalho de conversão das almas levou-o primeiro às aldeias de índios mansos. Depois, seguiu pelos sertões agrestes, cheios de perigos e feras.

Referência

O padre Francisco Pinto se destacou em suas relações com os habitantes dos sertões e florestas. Seus atos constituíram um compêndio de ensinamentos para os missionários de seu tempo e os missionários futuros.

Missionário

O padre Luis Figueira nasceu no Campo de Ourique, Vila de Almodavar, Arcebispado de Évora em 1574. Foi seu conterrâneo Fernão Guerreiro, autor de vários trabalhos na Companhias de Jesus, Portugal. Foi um dos primeiros missionários enviados ao Ceará

Discípulo

Pe. Luis Figueira entrou como noviço no Colégio de Évora, em 22 de janeiro de 1592. No ano de 1602, já formado sacerdote, partiu para o Brasil, onde dedicou-se ao apostolado como discípulo do padre Francisco Pinto em quem descobrira o mesmo intenso amor pela conversão e reeducação dos índios, nas Missões que tiveram entrada pelos sertões dos Estados da Bahia e de Pernambuco.

Mais informações:
A viagem é R$ 245,00, incluindo hospedagem, café da manhã, transporte, almoço e jantar
(85) 9943.4649/ 9986.8277/ 9988.9707

OPINIÃO

Massacre do padre aconteceu em Carnaubal

Carnaubal. Há 400 anos, na manhã do dia 11 de janeiro de 1608, na Serra da Ibiapaba, era barbaramente assassinado a golpes de pauladas na cabeça o padre Francisco Pinto, pelos ameríncolas Tocarijus, depois de inutilmente tentar pacificá-los. Essa data ficou marcada como o final da primeira catequese realizada no território da antiga capitania do Siará Grande.

Os fatos ocorridos nesta primeira missão catequética foram registrados numa famosa carta intitulada de “Relação do Maranhão”, escrita pelo então padre Luis Figueira, companheiro de jornada do pe. Francisco Pinto. O documento foi enviado no mesmo ano de 1608 ao seu superior geral da Ordem, pe. Cláudio Aquaviva, e publicado no 17º volume na Revista do Instituto do Ceará, no ano de 1903, páginas de 97 à 140, pelo então Barão de Studart, que conseguiu uma fotocópia do documento, através do superior geral da Companhia de Jesus. Florival Seraine, o qual lhe foi entregue pelo jesuíta P. J. B. Van Meurs do limburgo holandês, cujo o original se acha guardado no arquivo “S. J. Romanorum”, em Roma.

400 anos se passaram do assassinato do pe. Francisco Pinto e, até então, nunca tinha sido revelada com precisão a real localização de onde tinha ocorrido o bárbaro assassinato. Apenas sabia-se, através dos escritos do pe. Luis Figueira, que o local teria sido na Ibiapaba, precisamente no percurso da antiga rota da Serra Grande.

Ao longo dos séculos XVII e XVIII essa rota foi descrita pelos etnólogos, cronistas e historiógrafos como sendo parte das terras habitadas por estes mesmos silvícolas.

Mas onde se localizavam essas terras? Pode-se concluir, a partir do escrito do pe. Luis Figueira, que a área da rota da Serra Grande na atualidade se trata de terras pertencentes ao município de Carnaubal. Essa dedução é baseada nas distâncias usadas por ele para determinar os pontos referencias do local exato de onde ocorrera o assassinato do pe. Francisco Pinto: era de 12 léguas de distância da aldeia do Diabo Grande (Ibiapina) para o local onde a comitiva estava acampada na manhã de 11 de janeiro de 1608 (local este onde ocorreu o assassinato do pe. Francisco Pinto) e desse último cerca de 15 à 20 léguas de distância para a tribo dos Tocarijus.

A partir dessas distâncias e de seus pontos referencias pode-se afirmar que os Tocarijus, primitivamente, teriam habitado as terras carnaubalenses.

Esta tese pode ser comprovada pelos resquícios deixado ao longo dessa antiga rota localizada em solo de Carnaubal. Confirma que a rota mencionada pelo padre Luis Figueira, no documento de sua autoria, foi o local onde ocorreu o assassinato do pe. Francisco Pinto. Na atualidade, compreende as terras situadas do município de Carnaubal.

Essa antiga rota da Serra Grande tinha seu início em cima da Serra da Ibiapaba, na porção sul do antigo território da Capitania do Siará Grande, e se estendia em direção ao território da antiga Capitania do Rio Grande até chegar ao atual território do município de Carnaubal. Desse ponto rumava em direção ao oeste da mesma serra pela antiga ladeira Carnaubal, atual Estrada da Pedra, que liga os Estados do Ceará e Piauí, seguindo adiante na direção oeste e passando pelos atuais sertões piauienses, até chegar o leito do Rio Parnaíba, na atual divisa entre o Piauí e o Estado do Maranhão — naquela época, tratava-se de terras das Capitanias do Siara Grande e do Rio Grande pois o território da Capitania do Piauí só passou a existir no ano de 1621, 13 anos depois das estadias dos padres na Ibiapaba, de acordo com o relato de Carlos Studart Filho, em “A Capitania do Piauí”, publicado na Revista do Instituto do Ceará, nº LXXX, página 113.

* Formado pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA) em História e Geografia, é professor da EEFM Joaquim Bastos Gonçalves em Carnaubal

CULTURA

Tocarijus tinham por hábito o canibalismo

Carnaubal. Os Tocarijus eram indígenas de modos culturais bastantes peculiares. Por isso, muitas vezes, foram taxados de “criaturas brutais, satânicas, alerves e ímpias” devido às suas práticas antropófagas — o costume de comer assados os parentes mortos, para que tivessem estes sepulturas condigna, guardados dentro do próprio organismo dos que os estimavam. Essa característica cultural, bastante expressiva, era comum também na nação dos Jondoins que pertencia à mesma família étnico lingüística.

Em carta de sua autoria, padre Luis Figueira descreveu: “Tem tábem pr. costume quãdo os seus morrem... lhes comerem a carne, os ossos moydos lhos beberem pa. qu. não tenhão saudades daquelles q. mettem nas entranhas... q. enterrão os seus mortos apartando-se de sy tudo o que lhe causa das saudades”.