Artistas têm a Caatinga verde como fonte de inspiração

Um pintor, um escultor joalheiro e um fotógrafo retratam a metamorfose nas suas obras de arte

Escrito por Alex Pimentel - Colaborador ,

Quixeramobim Quando a estação das chuvas chega ao sertão, surge uma inspiração a mais para os artistas plásticos e fotógrafos do coração geográfico do Ceará. A paisagem da mata branca, sinônimo indígena para a flora nativa, a vegetação da Caatinga, se transforma numa espécie de primavera nordestina. Um pintor, um escultor joalheiro e um fotógrafo retratam essa metamorfose nas suas obras de arte, expostas nas paredes, adornos pessoais e também em suas exposições.

Edislei Ferreira de Sousa, Antônio Rabelo e David Einstein, em comum, buscam na natureza a inspiração para cada nova criação, afinal, é época de transformação, anunciada pela florada do mandacaru, símbolo sertanejo. O verde se aviva e contrasta com a casinha caiada ao fundo. O nascer e o pôr do sol se tornam mais avermelhados. O pulo na água, a colheita no campo... Nesta época do ano, opção não falta, reconhecem.

Cores

Dedicado à pintura há quase 20 anos, o artista plástico Edslei Feitosa de Sousa, 34, fica feliz quando as primeiras águas começam a mudar a paisagem do lugar onde mora. Logo, o cinza dá espaço ao verde e mais uma infinidade de tons mais vivos. Basta escolher o local e encher o quadro de cores, a exemplo a acácia-rubra, mais conhecida como flamboyant, no terreiro da casa dos pais. E não demora muito para se perceber a influencia do período climático na finalização do quadro.

Para Edsley - assim assina suas obras - a mudança da Capital, onde nasceu, para o Interior, sentindo o aroma, contemplando o sertão, os quatro meses do inverno causa um impacto mais expressivo quando se observa, ao horizonte, a sua flora e a paisagem, um processo criado por Deus, a quem deve o dom da arte, a qual descobriu diante de uma dificuldade pessoal. Assim como as chuvas animam os moradores do lugar, a fé transformou sua vida. No ateliê, é impossível deixar de notar a maior pintura emoldurada, da barragem da cidade, sangrando. A real, aguarda as águas correrem rio abaixo da ponte na CE-060. Neste ano, ficaram faltando 18 centímetros para transporem as comportas de concreto, mas, com imaginação, na arte quase tudo é possível, explica mostrando a pintura acabada. A obra, encomendada, custou R$ 2.500, mas a beleza de apreciar a corredeira, o seu barulho, isso não tem preço, acrescenta o artista.

Espinhos

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As fotos de David Einstein e os quadros pintados por Edslei Feitosa de Sousa são completamente inspirados no bioma essencialmente brasileiro, que muda de cor ao longo dos meses de cada ano (Foto: Alex Pimentel)

A relação de Antônio Rabelo com a água também é forte, não somente por dar vida aos cactáceos, de onde extrai os espinhos, matéria-prima da sua principal coleção. Apesar de resistentes a longos períodos de estiagem, o mandacaru e o xique-xique precisam desse ciclo natural para sobreviverem e multiplicarem. As miniesculturas em metais retratam as flores de outras plantas, transformadas em brincos, colares, pulseiras e braceletes. Outras, compostas por pedras semipreciosas, reforçam a origem do nome da coleção, Rio das Pedras.

Quando março chega, é época de preservar e apenas apreciar a flora pelos três meses seguintes, até mais. É preciso dar tempo ao tempo para a natureza prosseguir o seu ciclo, até outubro chegar e, mais uma vez, a folhagem secar e, no seu entorno, encontrar os mesmos elementos, mas de outra forma, para a criação de mais uma coleção de joias da Ceará Designer.

Conceituada internacionalmente, a empresa familiar exporta joias para vários países. As peças variam de R$ 70 a R$ 4 mil. No Ceará, elas podem ser encontradas na loja Bayusha, no Shopping RioMar Fortaleza. Recentemente, um conjunto pôde ser apreciado por todo o País, na novela "O outro lado do paraíso", da Rede Globo. O colar e brincos compostos por tonalidades de espinhos de mandacaru, eram usados pela personagem Raquel, interpretada pela atriz Erika Januza, se tornando mais uma vez tendência nacional.

Imagens

Esse período é um dos preferidos pelo fotógrafo David Einstein, autodidata como o pai, Antônio Rabelo. Os registros mais interessantes surgem com as chuvas, entre raios e trovões, e o mexer das águas, com pescadores e banhistas. O segredo é encontrar o momento ideal para o clique. O resto está no sangue da família. Além do pai, os avós, José Luiz Rabelo e Maria do Socorro Rabelo, eram profissionais desse ofício. O gosto surgiu quando passou a fazer registros das joias da Ceará Designer, explica.

Aos 24 anos, além de uma exposição especial no espaço cultural do Laboratório Emílio Ribas, o jovem já conquistou um prêmio nacional, em um concurso promovido por uma fábrica de câmeras. Ele também foi convidado por um dos maiores profissionais da área, Celso Oliveira, a realizar uma turnê em Cuba, antes do próximo inverno no sertão. O idealizador do projeto está captando recursos.

Mais Informações:

Edsley Artes

Rua Américo Militão, 113 - Centro

Telefone: (88) 9 9435-9701

Ceará Designer

Distrito Industrial S/N - Sabonete

Telefone: (88) 9 9945-9585

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Estações diferentes na linha do Equador

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no Brasil, as estações do ano são divididas em quatro: outono, inverno, primavera e verão. O período chuvoso no Nordeste, conhecido por quem mora nesta região como inverno, corresponde ao período do outono.

O outono, estação que sucede ao verão e antecede o inverno, tem início no dia 20 de março. É caracterizado por queda na temperatura, e pelo amarelar e início da queda das folhas das árvores, que indica a passagem de estações, exceto nas regiões próximas ao Equador, como o Ceará.

Já o inverno, segunda estação mais conhecida e notadamente atuante no Nordeste, caracterizado pelas baixas temperaturas, começa por volta de 21 de junho, e termina com o equinócio de primavera, perto de 21 de setembro. Esse período é referente ao hemisfério sul da Terra.

A primavera, época em que ocorre o florescimento de várias espécies de plantas, ocorrendo após o inverno e antes do verão, tem início em 22 de setembro e termina no dia 21 de dezembro, datas relativas ao ano de 2018.

A quarta estação, o verão, época mais quente do ano, situada entre a primavera e o outono, com início em 21 de dezembro, terminando em 20 de março, é considerada a mais extensa no Nordeste brasileiro, seguindo nos oito meses seguintes após a quadra das chuvas.