Arqueólogos acreditam que achado é uma fossa

A estrutura encontrada nas escavações da obra mobilizou a maior população do Interior do Cariri

Escrito por Antonio Rodrigues - Colaborador ,
Legenda: O trabalho dos arqueólogos atraiu olhares de muitos curiosos em volta do buraco. Houve brincadeiras e especulações sobre do que se tratava
Foto: Foto: Antonio Rodrigues

Juazeiro do Norte. Depois de chamar a atenção da população deste município do Cariri cearense, desde o último fim de semana, a estrutura encontrada na Rua Padre Cícero durante, obra de drenagem, foi avaliada, na manhã desta quarta-feira (20), por pesquisadores do Instituto de Arqueologia do Cariri. Apesar de muitas teorias, o trabalho destes estudiosos indica que, provavelmente, se trata de uma fossa séptica, frustrando alguns moradores.

O arqueólogo Agnelo Queiroz, que trabalhou no local, conta que se trata de uma construção de alvenaria com argamassa de barro. "Já se assemelhava a uma fossa séptica. A gente desceu e constatou que possivelmente é. Talvez não de fezes, mas de água doméstica", acredita o pesquisador.

Uma das evidências é uma estrutura de encanação que estaria ligada a um prédio vizinho, possivelmente onde funcionava um sobrado que pertenceu a um senhor conhecido como Damiãzinho, onde funcionou um clube e, depois, a sede da Prefeitura. "A análise é superficial. Pode ter outras análises de arquitetos e historiadores. A gente não pode fazer intervenção sem autorização do Iphan", justifica Agnelo.

Importância histórica

Segundo o arqueólogo, é comum encontrar algumas evidências em obras urbanas, principalmente no centro de cidades antigas. Normalmente, os operários e engenheiros não dão atenção a esses achados.

"De certa forma, isso tem importância histórica para a Cidade. Da história do saneamento básico, da evolução da higienização da cidade. Acho que o Poder Público tem que discutir com a população e decidir o que fazer, como evidenciar, como registrar", completa Agnelo.

No entanto, a secretária de Infraestrutura, Gizele Menezes, afirmou que a obra terá continuidade, após ter sido evidenciado que se trata de uma fossa séptica. "Nós pedimos opinião dos historiadores, e vimos que não se trata de nenhum elemento relevante para a história de Juazeiro", explica.

Por outro lado, ela ressalta que, assim que foi encontrada a estrutura, a Pasta tomou a medida de isolar a área e abrir a extensão para ter mais visibilidade e acesso. Além disso, a Secretaria Municipal de Cultural convidou os arqueólogos. "É muito melhor pecar pelo excesso que demolir alguma coisa de relevância para a Cidade", completa a secretária.

"Do ponto de vista histórico, se desse outro resultado, como um túnel, precisava de um estudo mais aprofundado. Mas, como se trata de uma fossa, é possível que encontre outras, porque a tubulação vai continuar. Se for uma prática comum no meio da rua, na época, pode ser que encontre outras. Eu acho que, do ponto de vista histórico, não vejo nenhum inconveniente de fechar isso aí", conta o pesquisador Daniel Walker, que esteve no local, acompanhando o trabalho dos arqueólogos.

No entanto, para Daniel Walker, todo esse episódio gerou uma boa lição a partir do procedimento adotado pela Prefeitura de Juazeiro do Norte, quando foi descoberta a estrutura: suspender a obra e chamar uma equipe técnica para fazer a avaliação. "A população participou ativamente, houve momentos de brincadeira, mas mobilizou muitos historiadores. Muito bom e deixa a demonstração que esse deve ser o procedimento. Qualquer instituição que estiver fazendo obrar: parar para fazer as investigações", exalta.

Curiosidade

O trabalho dos arqueólogos atraiu olhares de muitos curiosos em volta do buraco. Houve brincadeiras e especulações sobre do que se tratava. Historiadores também estiveram no local para acompanhar o desenrolar da exploração.

Antes disso, alguns moradores visitava, até mesmo de noite, auxiliados por lanternas. Mas todo esse alvoroço foi "condenado" pelo marceneiro José Veras, que passava no local. "Isso já era para ser enterrado. Para a Cidade se desenvolver, ser mais moderna, não pode interditar essa rua. Tapa o buraco e acabou a história. Conversaram besteira, que tinha botija, armamento. Isso não chega a ter 100 anos, tem 50, no máximo", bradou.

Devoção

Por outro lado, discretamente, a aposentada Olindrina do Nascimento observava atenta toda a movimentação próximo ao buraco. Quando os ânimos ficaram mais calmos e o número de pessoas menor, aproximou-se e pediu para um homem retirar um pedaço da madeira que tampa a possível fossa séptica.

"Estou levando para guardar, saber o seu significado", explicou. Ontem, ela estava na missa e passou pela Rua Padre Cícero. Ao ver a estrutura, conta que sentiu um arrepio e ouviu uma voz dizendo para ir lá no dia seguinte.

Cacimbas

"Pra mim, não é fossa. Deus vai saber e Padre Cícero dizer. Jesus é quem sabe. Se eu rezasse o rosário de Santo Antônio apressado, ia saber o que era isso aí. Eu pensei que era a cacimba de Padre Cícero", afirma.

Segundo ela, o Patriarca de Juazeiro do Norte criou cacimbas, em locais estratégicos da Cidade, como um presságio de uma grande escassez de água que aconteceria no Nordeste. A aposentada conta que há outras duas, na Igreja dos Salesianos e nos Franciscanos. Isso é um mistério", resume.

O radialista Agnaldo Carlos acredita que isso faz parte do misticismo de Juazeiro do Norte. "Tudo que ocorre nesta Cidade repercute no Nordeste inteiro. Essa aura de Cidade Santa vai além. 'Cidade Encantada' era um termo que o romeiro antigo usava muito. De sábado para cá era gente aqui. Extrapola as porteiras. E fica o nome de Juazeiro em evidência", explica.

O "mistério" colocado por Olindrina acaba "terminando a história na mesma coisa que começou e fica sempre renovando", finaliza.

Outras descobertas

Em 1959, quando a Praça da Sé, em Crato, foi reformada, os operários da rede hidráulica encontraram duas urnas. Uma delas, contendo ossos humanos e um prato cerâmico.

No mesmo ano, na construção da Faculdade de Filosofia - atual campus da Universidade Regional do Cariri (Urca) no bairro Pimenta - foram encontradas mais cinco urnas. Duas delas, foram destruídas pelos construtores. As demais, continham utensílios líticos e cerâmicos, um crânio e um dente.

Não se sabe o paradeiro dos ossos humanos encontrados nas descobertas. Parte desse acervo lítico e cerâmico encontra-se na guarda do Museu Histórico do Crato. Estes achados foram associados, na época, aos indígenas submetidos a aldeamento na antiga Missão do Miranda - que deu origem ao Município -, pertencentes às tribos Kariri.