Açudes cearenses afetados por estiagem necessitam de manutenção

Alguns reservatórios estão sem água há vários anos. A escassez propicia o surgimento da chamada "floresta branca". Sem manutenção, qualidade da água pode ser afetada em caso de aportes substanciais

Escrito por Alex Pimentel , regiao@verdesmares.com.br
Legenda: O Açude Sousa está sem água há um ano. Pequenas florestas de mata branca se formaram na bacia
Foto: FOTO: ALEX PIMENTEL

As chuvas deste início de ano estão trazendo boas expectativas a milhares de sertanejos. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) divulgou maior probabilidade de chuvas dentro da média histórica para a quadra chuvosa, no entanto, muitos sertanejos vão além, e acreditam em grandes cargas d'água nos açudes espalhados pelo Estado, inclusive nas barragens completamente secas. Algumas estão sem água há mais de três anos. Este cenário favorece a formação de pequenas florestas de mata branca nas barragens, causando preocupação aos agricultores que conhecem os efeitos causados pela falta de manutenção.

Esse é o caso dos açudes Sousa, em Canindé e do Monsenhor Tabosa, nesse município homônimo. O Sousa, com capacidade para 33 milhões de m³, vem agonizando desde agosto de 2014, quando secou completamente pela primeira vez. De lá para cá, a barragem adquiriu aporte de água, mas não foi suficiente e, em junho passado, secou novamente. Embora sem água, o solo ainda úmido favoreceu o crescimento da vegetação nativa. "Se houver uma boa recarga, e não for realizada a devida limpeza, a mata da Caatinga vai morrer ao ficar submersa e apodrecer a água", destacou o agricultor José Pires.

Segundo o secretário de Agricultura e Recursos Hídricos de Canindé, Roberto Lopes, o Município de Canindé tem interesse, apesar das suas limitações financeiras, em realizar o serviço de limpeza, inclusive nas paredes e no sistema hidráulico de abastecimento. Sem manutenção, poderá estar danificado quando for novamente viável o seu uso. As autorizações para reparo e manutenção dependem do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs).

O caso do Monsenhor Tabosa, sem volume hídrico desde o início de 2017, é igual ao do Sousa. A preocupação é registrada pelo poeta Pahé Passo Fundo que, além das artes, dedica-se à vida no campo. Ele cita o exemplo do Castanhão, quando em 2014 o Rio Jaguaribe encheu e muitas árvores de pequeno a grande porte no entorno foram encobertas pela água e apodreceram. "A qualidade da água piorou. Para evitar esse problema basta passar a máquina para retirar a vegetação", explicou.

A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), órgão do Governo do Estado, informou ser responsável pela realização dos serviços de manutenção nos açudes públicos. Afirmou também que a situação dos dois reservatórios não está na lista de prioridades. Mesmo assim, justificou ter implementado de forma pioneira no Brasil, as Inspeções de Segurança Regulares (ISR), conhecidas como "Check-list" das barragens. Também de maneira inédita, a Cogerh, a partir do ano de 2005 passou a emitir seu Relatório Anual de Segurança de Barragem (RASB), instrumento adotado pela lei federal 12.334 de 2010.

Medidas
Ainda de acordo com a Cogerh, na sua rotina está a aplicação dos "Check-list" nos açudes estaduais duas vezes ao ano, sendo o primeiro diagnóstico antes da quadra chuvosa e o segundo após o período invernal.

Essa estratégia aponta as intervenções necessárias. A partir da identificação das anomalias, há a classificação numa escala que indica a prioridade das intervenções a serem implementadas.

As barragens classificadas como prioridade de correção de anomalias são: o Cupim, no município de Independência; o Colina, em Quiterianópolis; o Barra Velha em Independência; o Tijuquinha em Baturité; o Pacajus, neste município; o Cipoada em Morada Nova; o Broco em Tauá e o Monte Belo, em Araripe.