A arte das crocheteiras de Jericoacoara

Hoje, 18 artesãs se revezam na feitura das peças variadas, que são vendidas na praia e para outros países

Escrito por Redação ,
Legenda: Os visitantes ficam surpresos com o trabalho das mulheres nativas pela beleza e pelo esmero
Foto: Foto: Marcelino júnior

Jericoacoara. Foi com linha e agulha de crochê, que algumas donas de casa de Jericoacoara, praia paradisíaca a 297Km de Fortaleza, mudaram a rotina da vida doméstica e driblaram a falta de dinheiro. Antes, para complementar a renda de casa, que tinha maior força na pesca que os maridos traziam do mar, elas criavam pequenas peças e saiam por conta própria para arriscar alguma venda nas barracas, defronte ao mar, sempre lotadas, em época de alta temporada, que vai de junho ao feriado do Carnaval.

A Vila, de cerca de 3.500 moradores, localizada no Litoral Oeste, é itinerário de boa parte dos turistas do mundo todo. Nesse período de férias escolares dos brasileiros, chega a ter 80% de sua ocupação por famílias que viajam em busca de sol e praias de águas tranquilas, sem falar nas belezas que fazem de Jeri parte do circuito da Rota das Emoções, série de passeios turísticos que liga o Parque Nacional de Jericoacoara à Área de Proteção Ambiental do Delta do Paraíba, no Piauí; e o Parque Nacional do Lençóis Maranhenses, no Maranhão. E é justamente a parte feminina desse público que se surpreende ao ver o trabalho das crocheteiras de Jeri.

Entre uma barraca e outra, elas vão expondo seus produtos, disputando espaço com diversos tipos de ambulantes, que também chamam atenção da clientela, que entre um banho de mar e outro, se detêm para olhar algum produto.

Mas o que se vê, pelo menos entre as mulheres, é que o crochê está em alta, e é disputado na praia pelo gosto feminino, sempre ávido por novidades. E essas novidades são apresentadas em forma de colchas de cama, toalhas de mesa, blusas, saias, chapéus e outras peças, como saídas de banho. Uma, em especial, chamou atenção de Bianca Pamplona, estudante paraense de férias com a família. "Eu comprei uma saída de banho de crochê, que valoriza o corpo da mulher, e um chapéu. É muito interessante o trabalho delas, a gente vem para a praia e acha que sempre falta alguma coisa. Nunca vi vender esse tipo de produto na praia. Gostei demais dessa novidade".

A Associação das Crocheteiras Mundo Jeri foi criada há cinco anos, por iniciativa de Evilsa Marciano da Silva e um pequeno grupo de outras mulheres, que, como ela, aprendeu a arte do crochê, feita com agulha especial, em forma de gancho, que produz um trançado semelhante ao da malha ou renda, em casa, com a mãe.

Hoje, dezoito crocheteiras se revezam na feitura das peças variadas, que não se destinam apenas à venda na praia, mas seguem para alguns Estados brasileiros. A Associação também tem parceiros comerciais, que vão além dos limites que o mar impõe, entre eles, a Itália.

A renda é dividida entre as associadas, que chegam a lucrar entre R$ 1.000 e R$ 1.500, individualmente, quando o período de férias favorece. Cada mulher faz, pelo menos, uma peça por dia. Os produtos são comercializadas na praia, entre as araras e vitrines da Associação, com sede na rua principal da Vila.

Jeiciele da Silva, que faz parte do grupo, chega a comercializar até seis peças por dia, e se diz satisfeita com o lucro do que confecciona. "Antes, eu não tinha nenhuma renda, fazia as peças até por fazer mesmo, pois aprendi com minha mãe. Com a Associação, a gente se organizou e se uniu para lutar por esse espaço que temos hoje, aqui em Jericoacora. Todos conhecem a nossa arte", disse.

Presente

E a arte, que vem das mãos calejadas dessas senhoras, enche os olhos de quem se debruça ao sol, em busca de uma cor mais à cara do litoral. É o caso de Melissa Vieira, funcionária pública, que veio de Goiânia com a família para descansar. "Não resisti a uma peça que a Jeiciele me mostrou e comprei para minha filha um vestido bem trabalhado. Valem o passeio e o presente".

Os preços variam do menor, de R$ 10, para porta-guardanapos, a R$ 300, para a rede de crochê. E o trabalho não para, entre as crocheteiras de Jeri, que conseguiram seu lugar ao sol, entre as tramas complicadas de uma atividade, antes feita por hobby, que hoje lhes garante renda e reforça a autoestima.

Preços

10 reais é o valor da peça de crochê mais em conta em Jeri, um porta-guardanapo. Já a rede de crochê, o produto mais caro, é comercializada por R$ 300

Marcelino Júnior
Colaborador