Redes sociais: riscos e potenciais para a eleição

Para pesquisadores, o Facebook e o WhatsApp devem ter mais ênfase neste pleito, mas é preciso usá-los bem

Escrito por William Santos - Editor Assistente ,

Embora estudiosos das relações entre comunicação e política sejam cautelosos ao projetar o espaço que redes sociais podem ocupar na campanha deste ano, pesquisa do Ideia Big Data, divulgada em maio, aponta que as redes sociais devem influenciar na definição de voto de 43,4% dos eleitores, contra 56,6% que disseram que mídias digitais não terão influência na tomada de decisão. Dentre tantas plataformas, o Facebook e o WhatsApp são apontados por pesquisadores entrevistados pelo Diário do Nordeste como aquelas que devem ter uso intensificado na campanha de 2018, mas, ao mesmo tempo em que elas podem ser ferramentas úteis para a definição do voto do eleitor, também são terreno fértil para a propagação de fake news e propaganda negativa na eleição.

O estudo do Ideia Big Data revela que 59,5% dos entrevistados pretendem acompanhar as publicações dos seus candidatos pelas redes sociais. A plataforma preferida para isso, de acordo com o levantamento, é o Facebook (58,5%), seguida do YouTube (13,2%), do Instagram (11,5%), Twitter (8,9%), WhatsApp (4,8%) e LinkedIn (3,2%). A pesquisa, encomendada pela consultoria Bites, entrevistou 1.482 pessoas no País. A margem de erro, segundo o instituto, é de três pontos percentuais para mais ou para menos. 

Os dados sinalizam que, como estratégias de campanha, plataformas como o Facebook, o Twitter e o Instagram, além de instrumentos de comunicação como o WhatsApp, podem ganhar mais espaços na disputa de postulantes pelos cargos eletivos que estarão em jogo em outubro próximo, mas pesquisadores defendem, também, que é fundamental que o eleitorado aprenda a fazer um bom uso das redes sociais para que elas possam ser relevantes no processo eleitoral.

Na avaliação de Jamil Marques, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que desenvolve pesquisas na área de comunicação e política, há dois elementos que apontam para que as redes sociais, às quais ele se refere como redes de comunicação digital, passem a ter espaço cada vez mais relevante nas campanhas e também no comportamento do eleitorado para a definição do voto. 

Onde o eleitor está

Um deles, segundo Marques, está associado ao fato de que as novas regras de financiamento, juntamente com o receio em relação a doações a partir de recentes investigações que expuseram esquemas ilícitos de irrigação de campanhas, devem tornar a quantidade de recursos mais escassa e, diante disso, postulantes precisam “apelar para outras formas de mobilização, de comunicação ou de difusão das suas mensagens para o eleitorado”. Além disso, diz ele, “os próprios candidatos estão percebendo que precisam ir aonde o eleitorado está, e seu eleitorado está, cada vez mais, nas redes de comunicação digital”.

Professor titular de Teoria da Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Wilson Gomes, por sua vez, pondera que “é muito complicado dizer que a internet vai influenciar votos”, porque a divisão entre uma noção de mundo real e de mundo virtual, segundo ele, é superada nos dias atuais. “Hoje não tem mais isso, então as pessoas têm várias janelas por meio das quais acessam a realidade. Os aplicativos, a estrutura da web, as chamadas mídias digitais, mídias sociais, são apenas mais um instrumento. Ou seja, uma pessoa que está vivendo em qualquer lugar dificilmente vai se privar de recursos online para formar a sua opinião”, argumenta Gomes, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital.

No atual cenário, afirma o professor, há grupos mais influenciáveis pelas redes sociais no contexto eleitoral do que outros. Na análise de Wilson Gomes, uma parte dos votos do “lulismo”, por exemplo, corresponde ao voto sindical e, mesmo que esta parcela de eleitores esteja online, não é nas rede sociais que vai formar sua opinião política. A mesma relação ele enxerga nos votos oriundos dos movimentos sociais que se voltam a Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL. Já o “bolsonarismo”, considera ele, é “fundamentalmente um fenômeno de internet”. “Todas as frentes simpáticas ao Bolsonaro são enraizadas em ambientes digitais. Tanto é assim que a campanha do Bolsonaro começou há muito tempo”, afirma.

Sociabilidade

Já Jamil Marques acrescenta que considerar a forma de sociabilidade do candidato, assim como o cargo que está sendo pleiteado, é importante para definir a centralidade das redes de comunicação digital para cada candidatura. Segundo ele, uma pesquisa de mestrado feita pelo pesquisador Fellipe Herman na UFPR, por exemplo, investigou a sociabilidade de candidatos a vereador de Curitiba em 2016, e concluiu que os “vereadores de bairro” utilizam menos as redes digitais de comunicação na campanha, já que “o grosso do relacionamento” com os eleitores é mantido pessoalmente.

“A gente conseguiu reforçar a ideia de que a internet é um elemento fundamental do processo de escolha do voto, mas que essa influência das redes de comunicação digital varia de cargo para cargo que está em questão”, resgata Marques. Para postulantes a presidente da República, governador e prefeito de grandes cidades, por exemplo, ele observa que as redes têm papel de comunicar para massas, já que os candidatos não têm condições, durante a campanha, de chegar à totalidade de eleitores dos seus colégios eleitorais.

Em um universo de tantas redes sociais, porém, algumas, nas projeções dos pesquisadores, podem ter mais ênfase na campanha de 2018. Jamil Marques acredita que as duas plataformas que mais vão se destacar na disputa eleitoral deste ano são o Facebook, que já teve posição de destaque em pleitos anteriores, e o WhatsApp – embora defina este como um instrumento de comunicação –, que tem, segundo ele, ganhado projeção maior na esfera eleitoral. 

“Essas ferramentas passam a ocupar uma centralidade nas nossas vidas e os candidatos não podem abrir mão de estar lá. Alguns anos atrás, coisa de duas décadas, a gente tinha grandes atores que participavam da comunicação política: os marqueteiros, o jornalismo, os institutos de opinião pública, o Poder Judiciário. Hoje, a gente tem um outro ‘player’, que é justamente o controle das redes sociais”.

Wilson Gomes, da UFBA, também considera que o WhatsApp deve estar mais em evidência na campanha, pela característica de que o compartilhamento de mensagens instantâneas na plataforma não é “rastreável” como em outras redes sociais, como o Facebook ou o Twitter, nas quais publicações podem ser salvas e ficam disponíveis por mais tempo. Este elemento, aliás, está na centralidade das discussões sobre a propagação de fake news durante o pleito deste ano. 

Em debate realizado na Câmara dos Deputados no dia 19 de junho, por exemplo, o promotor e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Digital, Frederico Ceroy, disse que o WhatsApp será um “problema enorme para as eleições 2018”, já que ferramentas de checagem de fatos não estão moldadas para a plataforma. Wilson Gomes, por sua vez, analisa que aspectos positivos e negativos do WhatsApp para a campanha não estão relacionados à ferramenta em si, mas são características das pessoas que a utilizam.

Alcance

“O WhatsApp, que é uma rede de publicação de mensagens instantâneas, permite as pessoas utilizarem para tudo, para o bem e para o mal. Estamos reclamando do WhatsApp porque o ambiente político está muito envenenado, polarizado. Se as pessoas estão odiando, elas vão odiar no Twitter, no Facebook, no bar, na reunião...”, opina. Conforme Gomes, as redes sociais, contudo, potencializam a escala do alcance e a velocidade de distribuição de informações. 

“As pessoas precisam de um conteúdo que apenas confirme aquilo que já acham. Enquanto houver pessoas que consomem fake news, vai ter fake news. Fake news existe porque atende aos desejos de várias pessoas”, aponta. E não só de pessoas, mas também de campanhas. “Não sei se as campanhas querem combater fake news, porque tem campanhas que se beneficiam intensamente de fake news. O ‘bolsonarismo’ é uma fábrica de fake news”, considera o docente. 

Neste cenário, o professor Jamil Marques afirma que, para o eleitorado, o principal desafio já colocado é aprender a utilizar as redes sociais, de modo que possa se apropriar dos benefícios proporcionados por elas, mas também desviar de problemas que causam ou intensificam. “É muito importante que o eleitor aprenda a característica de uma fake news e, a partir disso, possa começar a distinguir em qual material e em qual tipo de fonte ele pode confiar ou não”, defende.

Recursos 

Tais questões se tornam mais evidentes no período pré-eleitoral, que sinaliza a possibilidade maior de utilização de redes sociais para propaganda, a partir da possibilidade de impulsionamento pago de conteúdos na internet por candidatos, mudança incorporada à legislação eleitoral para este pleito. “As campanhas tirarão do seu pouco dinheiro do tempo da televisão para colocar em mídias digitais? Não sei, mas tenho a impressão de que o impulsionamento (de publicações) vai consumir um pouco mais dos recursos”, projeta Wilson Gomes. 

Ele ressalta, porém, que a campanha digital não está apenas nas ações definidas pelas coordenações, mas o que as pessoas fazem digitalmente a favor ou contra candidaturas, conforme analisa, também compreende uma campanha que já está em curso, abaixo da alçada do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais.

Jamil Marques, por sua vez, vê as redes de comunicação digital não como concorrentes de meios tradicionais de propaganda eleitoral, como a televisão e o rádio, mas complementares. Ao considerar características distintas das plataformas – na TV e no rádio, aponta ele, o alcance pode chegar a um público de diferentes faixas etárias e perfis variados, diferente dos usuários que buscam informações políticas online –, o professor da UFPR aponta que as campanhas tendem a investir em “mensagens” de acordo com cada público.

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