Quem são os bolsonaristas?

Partido de Bolsonaro cresceu no 1º turno. Seus representantes eleitos são mais novos do que os de outras siglas. Especialistas analisam que a legenda do capitão do Exército concentra segmentos descontentes da sociedade

Escrito por Redação ,
Legenda: Além de eleger parlamentares, popularidade de Bolsonaro incentiva o comércio de camisetas em São Paulo e multiplica apoiadores com as cores da Bandeira do Brasil, como se vê no Rio
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Na carona da popularidade do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), candidatos de sua sigla transformaram um partido considerado nanico até o domingo da eleição na segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados. No Senado, a sigla estreia já com quatro assentos. Na avaliação de analistas, o PSL abriu as portas para setores da sociedade que estavam descontentes e almejavam maior representatividade, sem necessariamente ter uma identidade ideológica.

"Essa eleição revela o desejo de segmentos da população de renovar a composição do Congresso. Eles encontraram um canal no PSL e na proposta de Bolsonaro, por fazerem uma crítica muito séria contra os outros partidos e o modo tradicional de fazer política", avalia o cientista político da USP José Álvaro Moisés.

O analista considera "evidente" que a bancada faz parte de uma onda conservadora, mas, em sua opinião, "isso não quer dizer que não seja também uma renovação".

Para Moisés, o fato de Bolsonaro ser um capitão reformado que elogia as Forças Armadas deu alternativa a certos grupos descontentes. Os militares, afastados da disputa de poder político desde a redemocratização, encontraram no PSL um canal para viabilizar sua participação. Empresários também.

Joyce Luz, cientista política e professora da Fundação Escola de Sociologia (Fesp), segue linha semelhante para explicar o perfil dos bolsonaristas. "Renovação, neste sentido, é aquilo que não tem nada a ver com a política anterior. O PSL parece ter aberto as portas para esses candidatos". A professora da Fesp não vê relação entre o perfil dos eleitos e as prioridades do eleitorado nesta disputa. Joice Hasselmann, a deputada federal mais votada do País, por exemplo, não explorou o fato de ser mulher em sua campanha.

"É difícil pensar que o eleitor que escolheu os candidatos do PSL tenha pesado que eram mulheres, negros, pardos, etc. Não que sejam racistas, machistas, essas coisas. Mas talvez esse fator não seja decisivo para o voto", argumenta a professora da Fesp.

Militares

O discurso fortemente militarizado, de privilégio da segurança, provavelmente é a principal bandeira deles, complementou José Álvaro Moisés.

Os militares são 25% dos deputados federais da legenda. O fato de mulheres e negros terem sido eleitos no partido de um candidato acusado de ofender negros e mulheres não significa que os interesses desses segmentos estarão representados no Congresso, analisa o professor de Ciência Política da USP Glauco Peres. Para ele, é preciso observar se os parlamentares terão espaço de liderança nas bancadas.

A bancada do grupo de Bolsonaro é menos rica que o restante do Congresso eleito. O parlamentar mediano do PSL declarou bens que somam R$ 700 mil. Nos demais partidos, esse valor é de R$ 1 milhão.

Apesar de ter grande número de militares entre seus quadros, a sigla não apresenta esse grupo como a atividade mais comum. Empresários compõem o maior bloco (são 23% no PSL, ante 11% nos demais partidos). Enquanto as outras siglas têm a maioria dos parlamentares acima dos 50 anos, o PSL concentra políticos abaixo dos 40.

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