Primeiros ministros indicam o caminho da gestão Bolsonaro

Sérgio Moro, com a agenda anticorrupção e anticrime, e Paulo Guedes, com investimento e controle de gastos, serão os dois braços do governo eleito que pretende impor um novo ritmo

Escrito por Márcio Dornelles ,

Menos de dois meses separam o presidente da República eleito, Jair Bolsonaro (PSL), da cadeira mais importante do Brasil, e muitas decisões precisam ser tomadas até lá. O militar reformado começa a montar o corpo ministerial que o acompanhará na largada do governo. Cinco nomes com características bem distintas estão definidos, entre eles, o do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, maior aquisição do governo até o momento. Não serão poucos os desafios de Bolsonaro à frente do Planalto, por isso se reverte de grande importância a equipe formada.

O primeiro passo dado pelo presidente eleito foi a redução do número de ministérios. Eram 39 até 2015. Depois, caiu para 31. Hoje, são 29 no Governo Temer (MDB). Em janeiro, apenas 15.

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Alguns ministérios serão extintos e outros passarão por fusão, como acontecerá com o superministério formado por Justiça e Segurança Pública, a ser comandado por Sérgio Moro, que deve ter amplos poderes para tocar uma agenda anticorrupção.

Do outro lado está o economista Paulo Guedes, o primeiro nome confirmado pelo militar, antes mesmo da campanha eleitoral. Guedes e Moro surgem como os dois braços da gestão Bolsonaro: um com foco nos investimentos e no controle do gasto público, o outro, na agenda de combate ao crime organizado.

Completam o quadro ministerial já anunciado, o general Augusto Heleno, na Defesa, e o da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), além do ministro da Ciência e Tecnologia, tenente-coronel da FAB e astronauta Marcos Pontes.

A redução da estrutura e a escolha dos cinco primeiros nomes atendem à promessa de campanha do então candidato do PSL, afirma o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutor em Ciência Política, Edir Veiga. "Está dentro da lógica que ele anunciou de um governo liberal no sentido de uma política de diminuir o tamanho do Estado, trabalhar o controle dos gastos públicos, enxugar o funcionalismo público, o inchaço do Governo", diz.

Já o cientista político Osmar de Sá Ponte, professor de Sociologia Econômica na Universidade Federal do Ceará, pondera que se deve ter cautela nas alterações a serem feitas no Governo Federal. "Você não pode querer reinventar tudo. É louvável que se mude. Mas a mudança tem que ser medida e comedida, para não criar prejuízo maior do que propõe", sugere.

Congresso

Uma expectativa que se cria na nova gestão é a relação que o Governo Federal terá com Senado e Câmara. Ela, dizem os especialistas, será fundamental para dar andamento aos projetos. Edir Veiga opina que ainda há dúvidas sobre como será o diálogo do Planalto com os parlamentares. "Hoje, o Congresso funciona com base no Colégio de Líderes, que dá racionalidade partidária no Congresso. Como Bolsonaro vai trabalhar sua agenda econômica e administrativa, partindo da noção de que não vai ser o presidencialismo de coalizão? São questões colocadas e vamos ver como é que o governo vai resolver". Situações sensíveis, como o funcionalismo público e a Reforma da Previdência, por exemplo, exigirão do governo e de suas lideranças poder de diálogo.

Osmar de Sá Ponte reforça a necessidade de entendimento no Legislativo. "Você ouve o Congresso, que representa a sociedade brasileira na sua pluralidade, concordando ou não com ela, com os efeitos que ela possa ter. Assim é a democracia", afirma, ao acrescentar que, em momentos de crise, a proximidade do governo com os parlamentares é, de fato, decisiva.

Coerência

Aliados de Bolsonaro no Ceará aprovaram as primeiras medidas do presidente da República eleito. O presidente do PSL Ceará, deputado federal eleito Heitor Freire, afirmou que o militar reformado "está sendo coerente nas suas escolhas, uma vez que disse que estaria priorizando cargos técnicos, pessoas qualificadas para as pastas". Ele cita os nomes de Sérgio Moro e Paulo Guedes. Freire acredita que a relação do Planalto com o Congresso será "profissional e amistosa", "visando o bem para o Brasil".

A avaliação também é positiva do senador eleito Luís Eduardo Girão (PROS), que apoiou Bolsonaro na disputa presidencial. "Melhor impossível. Ele está sendo feliz, sereno, e com muita ousadia em colocar pessoas de renome, com isenção, que tem uma folha de serviço prestado à nação", comentou, ao acrescentar "em duas palavras: começou bem". Girão disse ainda esperar contato republicado do Palácio do Planalto com deputados federais e senadores da próxima legislatura.

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