Na reta final, PT vê virada 'muito difícil' e aposta em estratégias repetidas

Os petistas, no entanto, insistem que é preciso que Fernando Haddad volte à carga ao eleitor mais pobre e seja agressivo ao tentar desconstruir Bolsonaro

Escrito por Marina Dias/FolhaPress ,

A cúpula da campanha de Fernando Haddad (PT) não conseguiu encontrar uma fórmula eficaz para conter a onda de apoio a Jair Bolsonaro (PSL) e entra na semana decisiva da campanha repetindo estratégias testadas - sem sucesso - desde a reta final do primeiro turno.

Dirigentes petistas admitem que é "muito difícil" reverter o quadro em que a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad chega a 18 pontos, segundo o Datafolha, mas insistem que é preciso voltar à carga ao eleitor mais pobre e ser agressivo ao tentar desconstruir o capitão reformado se quiserem a virada inédita desde a redemocratização.

Nesta segunda-feira (22), por exemplo, Haddad participa de um encontro com catadores de material reciclável da Coopamare (Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Papelão, Aparas e Materiais Reaproveitáveis), em São Paulo, e na quinta e sexta deve viajar para Pernambuco, Rio Grande do Norte e Bahia.

O governo do ex-presidente Lula iniciou a política de moradias populares em terrenos da União justamente com esses cooperados em São Paulo, em 2004.

A combinação das táticas vem sendo desenhada desde a reta final do primeiro turno, mas o próprio Haddad resistia em se despir de seu perfil mais moderado. O discurso para o eleitor lulista, com propostas econômicas, por sua vez, já havia sido incorporado pelo candidato.

No fim de semana, foi a vez de marcar a mudança de postura. Com a aparente imobilidade de sua campanha - o Datafolha mostrou Bolsonaro com 59% contra 41% de Haddad -, o herdeiro de Lula foi mais agressivo ao tratar do adversário e aproveitou para anunciar novas propostas econômico-sociais.

Em viagem ao Nordeste - mais uma imersão no eleitorado tradicionalmente petista que tem migrado para a órbita de Bolsonaro -, Haddad chamou o candidato do PSL de "soldadinho de araque" e "chefe de milícia" e afirmou ainda que os filhos do capitão reformado são "capangas".

O tom será replicado durante seus discursos e entrevistas esta semana e nos programas eleitorais do PT no rádio e na TV. 

Neste domingo (21), Haddad deu novo contorno ao discurso econômico quando anunciou, em evento no Maranhão, que, se for eleito, vai reajustar em 20% o valor do Bolsa Família e impor um teto de R$ 49 para o preço do botijão de gás.

Bolsonaro havia prometido, caso chegue ao Planalto, o pagamento de 13º salário para os beneficiários do Bolsa Família. 

O capitão reformado tem 39% das preferências de voto entre o eleitorado que ganha até dois salários mínimos, contra 44% de Haddad - a vantagem de Lula na região sempre foi bem maior.

Outra frente que tem sido explorada pela campanha petista é a disseminação de notícias falsas contra Haddad pela campanha de Bolsonaro. 

A Folha de S.Paulo revelou que empresas compraram pacotes de disparo em massa de mensagens via WhatsApp contra o petista, em uma prática considerada ilegal.

A partir daí, Haddad iniciou uma ofensiva jurídica contra a campanha adversária e pediu, inclusive, que Bolsonaro seja declarado inelegível caso comprovado que o esquema configura fraude eleitoral.

O PT não conseguiu formar a frente democrática que planejava para se contrapor a Bolsonaro. 

Além da aliança formal com partidos de centro-esquerda, como PSOL e PSB, Haddad queria levar Ciro Gomes (PDT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e até Joaquim Barbosa (PSB) para o centro de sua campanha, mas não obteve declaração de apoio explícito de nenhum deles.

Ciro, inclusive, viajou para a Europa logo após o primeiro turno e seu irmão, Cid Gomes, deu declarações duras contra o PT, apesar de dizer que vai votar em Haddad. 

A seis dias da eleição, a ordem é manter as agendas de rua, mais próximas ao eleitorado, inclusive no Nordeste, e perseguir o discurso - mais agressivo - de que Bolsonaro mente e é despreparado para comandar o país.

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