Diplomação de eleitos não escapa ao clima de polarização política

Sob manifestações em apoio ao presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e pedidos de libertação de Lula (PT) escolhidos nas urnas são oficializados pela Justiça Eleitoral, que faz balanço das atividades do pleito deste ano.

Escrito por Wagner Mendes e Renato Sousa ,

A diplomação dos candidatos eleitos na disputa de outubro deste ano expôs o tom de acirramento político vivido recentemente no País, e como ele ainda não se encerrou dentro da política. Houve provocações entre petistas e apoiadores de Jair Bolsonaro. A deputada federal reeleita Luizianne Lins (PT) foi a primeira a levar, no momento da diplomação, faixa pedindo da libertação do ex-presidente Lula (PT), que cumpre mais de 12 anos de prisão por corrupção. Na sequência, outros nomes do PT repetiram o manifesto, que rendeu manifestações favoráveis e contrárias à figura do ex-presidente. “O Lula está preso, babaca”, respondia parte do público que acompanhou os parlamentares eleitos do PSL.

Legenda: Após a entrega dos diplomas, os eleitos posaram para a tradicional foto com a mesa do evento
Foto: Foto: Thiago Gadelha

Do outro lado, o deputado federal eleito do PSL, Heitor Freire, recebeu o diploma levando ao palco o livro “A Verdade Sufocada”, de autoria do coronel reformado do Exército Alberto Brilhante Ustra, primeiro condenado por tortura durante o regime militar e exaltado frequentemente pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). André Fernandes, deputado estadual eleito pelo PSL, disse, ao receber o diploma: “lugar de bandido é na cadeia”, em referência a ao ex-presidente Lula.

O clima de embate político acabou mudando o tom antes burocrático da cerimônia organizada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Ceará (TRE-CE).
Os episódios renderam vaias e aplausos dos dois lados durante o evento, realizado na noite de ontem no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza.

Grupos organizados nos diversos espaços do Centro de Eventos responderam às provocações, nacionalizando o debate político na diplomação que antecede o novo governo de Bolsonaro. A rivalidade de posições políticas no evento antecipou o que deve ocorrer na próxima legislatura, não apenas em âmbito local, como na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e nas Casas do Congresso Nacional.

Conciliação

Apesar do clima, o senador eleito Cid Gomes adotou tom mais ameno em entrevista antes do início da diplomação. Ele afirmou que mesmo que não tenha votado no presidente eleito, deve-se dar voto de confiança ao novo governo e não agir com preconceito em relação ao novo ocupante do Palácio do Planalto. “A gente tem que ter moderação. O papel do Senado vai ser muito importante. Acho que a gente vai ter dias complexos e anos complexos”, prevê.

O tom de moderação também foi adotado por nomes que endossaram Bolsonaro na disputa de outubro. “Temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que esse governo dê certo, para que o País volte aos trilhos, mas com independência”, declarou o futuro colega de Cid na Câmara Alta, Eduardo Girão (PROS), que apoiou Bolsonaro no segundo turno. De acordo com ele, a partir do momento que os projetos do governo expressem ideias que vão de encontro às que ele apresentou durante a campanha, “faremos o contraponto”.

A cerimônia diplomou 46 deputados estaduais, 22 deputados federais e dois senadores, além do governador Camilo Santana (PT) e da vice-governadora Izolda Cela (PDT). O prefeito Roberto Cláudio (PDT), além de lideranças do Poder Legislativo, das Forças Armadas e do Judiciário, estiveram na mesa do evento.

Balanço

A diplomação dos eleitos encerrou, formalmente, o período eleitoral. Pelo menos, assim o foi para a Justiça Eleitoral, o que levou a uma maratona de análises de prestação de contas ao longo da semana para assegurar o ato de ontem. “Nesse momento, estamos felizes porque entregamos, de fato, um trabalho de excelência à sociedade”, declara a desembargadora Maria Nailde Pinheiro, presidente do TRE-CE. Segundo a magistrada, foi uma campanha “acirrada” a de 2018, mas houve “participação da população”.

Um ponto que ela destacou foi os questionamentos à urna eletrônica, que foi alvo de suspeitas inclusive pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), em relação à sua segurança. A magistrada tenta ver o lado cheio do copo. “Foi uma oportunidade que a Justiça Eleitoral teve de demonstrar ao eleitor como uma urna eletrônica funciona”, diz. Ela destaca que até esta eleição, não teria havido um questionamento sistemático do voto eletrônico, mas que a o Judiciário teria conseguido convencer o eleitorado da segurança dos equipamento. “Acredito que, com o resultado das eleições, a Justiça Eleitoral sai fortalecida”, aposta a desembargadora.

E, de acordo com a magistrada, todos os órgãos ligados às eleições já começam a planejar o pleito de 2020. “Como a nossa principal atividade é programar, preparar e, principalmente, presidir eleições, já estamos iniciando os preparativos”, explica. Uma das metas até lá é concluir a biometria de todo o eleitorado do Estado, o que passa por fazê-la em Fortaleza. Atualmente, quase 80% dos eleitores do Estado já são cadastrados no sistema.

Camilo anuncia conselho de notáveis

O governador reeleito Camilo Santana (PT) anunciou ontem a criação de um "conselho de notáveis" para aconselhar sua administração ao longo do próximo quadriênio. "O conselho vai reunir pessoas da sociedade, da área acadêmica, do setor produtivo, para que a gente possa colaborar com as ideias do estado. A gente pode colaborar de diversas formas, o importante é que todos possam estar unidos em defesa do Estado", declarou. O anúncio foi feito ontem, antes da diplomação dos eleitos em outubro.

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