Investigação motiva debates na AL e Câmara

O anúncio da iniciativa de colher assinaturas para uma CPI na Câmara Municipal foi apontado como ato de demagogia

Escrito por Redação ,
Legenda: Para Salmito Filho, a iniciativa do vereador faz demagogia com vidas que estão sendo brutalmente retiradas pelos assassinatos
Foto: Foto: Kléber A. Gonçalves

Na Assembleia Legislativa cearense e na Câmara Municipal de Fortaleza, ontem, o tema principal foi o arquivamento do pedido da CPI do narcotráfico defendida por alguns deputados estaduais. Na Câmara, o vereador Soldado Nélio (PR) anunciou que estava coletando assinaturas para instalar a CPI na Câmara, e foi criticado pelo presidente da Casa, Salmito Filho (PDT).

"Eu não vou admitir que se queira fazer demagogia barata, populismo, com vidas que estão sendo ameaçadas e brutalmente retiradas em assassinatos", declarou o trabalhista na tribuna da Casa. Segundo ele, uma CPI não é o fórum adequado para combater o crime organizado.

"(Investigação de crime organizado) não é com comissão parlamentar de inquérito, mas com inteligência das polícias militar, civil e federal", disse. De acordo com ele, "a CMFor não vai transformar-se em palanque, fingindo que está investigando o que não é competência sua", declarou o presidente.

Salmito afirmou que a CPI poderia ter o efeito contrário, já que alertaria as organizações criminosas que estariam sendo investigadas. "Quem tem que investigar o crime organizado são as forças policiais, preparadas e capacitadas para isso, com segredo, sigilo e discrição. Porque, como diz a sabedoria popular, quem quer pegar a galinha não diz 'xô'", argumentou.

A posição do presidente da Câmara foi defendida por diversos parlamentares. Acrísio Sena (PT) afirmou que a proposta era "populista, eleitoreira e de quem está atrás de palanque". De acordo com ele, a estratégia era casada com o deputado estadual Capitão Wagner (PR) em busca de ganhos eleitorais.

De acordo com o vereador Ésio Feitosa (PPL), a proposta "não constrói". "Querem ajudar no problema? Apresentem propostas no sentido de fortalecimento da inteligência e reconheça os esforços feitos pelo governador Camilo Santana (PT) e pelo prefeito Roberto Cláudio (PDT) no sentido de implementar políticas que previnam a médio e longo prazo a questão da violência", disse.

Correligionários, entretanto, saíram em defesa de Noélio. Daniel Borges declarou que a proposta não era eleitoreira, já que o requerimento na AL-CE foi apresentado em 2015. De acordo com ele, a CPI seria útil para se compreender o funcionamento do narcotráfico no Estado. "Se não formos para cima, discutindo o problema e indo para o enfrentamento, pode acontecer o mesmo que no Rio de Janeiro", declarou.

Arquivamento

No plenário da Assembleia, parlamentares críticos da gestão estadual defenderam que o momento de crise na Segurança vivenciado no Ceará seria o mais "propício" para instaurar a CPI do narcotráfico.

Arquivada por falta de apoio de líderes partidários, que retiraram boa parte das assinaturas para a sua criação, segundo informou o presidente da Assembleia, deputado Zezinho Albuquerque (PDT), a proposta de CPI do narcotráfico no Legislativo estadual rendeu discussões entre aliados e opositores ao governo. Para o deputado Roberto Mesquita (PSD), o Parlamento se "cala" ao decidir não instaurar o colegiado, diante da violência que cresce em razão das disputas entre facções criminosas.

"Não haveria momento mais propício para o Poder Legislativo dizer que representa a sociedade, do que instalar a CPI do narcotráfico. O Estado está tomado pelo narcotráfico, cada cidadão, em qualquer canto, está a cinco minutos de uma boca de fumo e nós, deputados estaduais, que vimos as assinaturas serem colhidas há dois anos para instalação de uma CPI, que tinha o objetivo de esconder outra."

Para o deputado Tin Gomes (PHS), a CPI era "essencial" no momento em que foi requerida, mas agora não, pois a vinda do Centro de Inteligência da Polícia Federal no Ceará vai ajudar a "descobrir onde estão os focos" do tráfico de drogas no Estado.

"O que a Assembleia ia fazer com simples CPI, se a gente não tem condição de prender? Não é medo, é coerência. Todos nós somos deputados e somos corajosos, cada um tem suas delimitações, uns falam, outros não, nem por isso um é menor do que o outro, nós queremos o melhor para o povo cearense. Vossa Excelência tem toda razão de pedir esse diálogo, estamos trabalhando um seminário para trazer experiências de outros países, para discutir essa questão como gente grande. Colocar toda a responsabilidade do crime do País no Ceará, não dá. Temos de ter a hombridade e a humildade para deixar a política da busca do voto e cobrar que se protejam as fronteiras da entrada de armas e drogas". Tin é membro da Mesa Diretora da Assembleia.

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