Governo Bolsonaro sinaliza para aliados no Ceará indicarem nomes na gestão

Interlocutores da Casa Civil, porém, negam a prática de "toma lá dá cá" com parlamentares em troca de apoio nas votações e exigem que as nomeações tenham perfil técnico para ocupar postos na administração pública federal

Escrito por Letícia Lima ,
Legenda: “Não tem problema indicação de um político, agora dentro da norma técnica de competência para o cargo”, diz o deputado Carlos Manato

A dois dias da posse dos deputados federais e senadores eleitos e reeleitos em 2018, o Governo Bolsonaro intensifica o diálogo com os parlamentares em busca de assegurar maioria no Congresso. Nessas negociações, o secretário especial para a Câmara, deputado Carlos Manato (PSL-ES), admitiu ao Diário do Nordeste que os apoiadores poderão indicar nomes para cargos federais nos estados, desde que atendam a uma "norma técnica". No Ceará, o Governo tem entre 40 e 50 cargos comissionados de alto escalão, diante de uma base que tenta formar no Estado de até 12 aliados.

O diretório estadual do PSL, contudo, estipula que o número total de cargos de livre nomeação no Ceará chegue a 2 mil ou mais, espalhados em 43 órgãos vinculados ao Governo Federal, como a Companhia Docas do Ceará, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e o Banco do Nordeste (BNB). Muitos desses cargos, como já noticiado pelo Diário do Nordeste, são ocupados por apadrinhados de políticos aliados à gestão passada.

O deputado Carlos Manato, um dos responsáveis pela articulação política no Governo Bolsonaro, admite que, nas conversas com os aliados nos estados, eles poderão indicar nomes em órgãos federais, desde que sigam a uma "norma técnica". Ele, porém, nega a prática do "toma lá dá cá" em troca de apoio às pautas do Governo.

Sem represálias

"Os nomes vão passar na Casa Civil, no GSI (Gabinete de Segurança Institucional), vão ser avaliados pelo ministro da Pasta. Você tem que ter o perfil para o cargo. É para ser médico? Você tem que ser médico. Os nossos deputados do PSL vão nos ajudar a falar dessas pessoas. O Heitor Freire (deputado federal do partido no Ceará) vai ser nosso parceiro de primeira hora. Não tem problema haver indicação de um político dentro dessa norma, sem ter toma lá dá cá".

Ainda segundo Manato, os parlamentares que, por ventura, votarem contra projetos do Governo no Congresso não serão alvos de restrições nos estados nas suas indicações ou na liberação de emendas.

"Não é porque você colocou um nome (para um cargo) que você está amarrado com a gente. Nós queremos que você (deputado) seja honesto conosco. O que é isso? 'Ah, não posso acompanhar vocês'. Eu tiro ele da conta e vou trabalhar outro para cobrir, mas você continua com credibilidade conosco, é uma parceria". O secretário disse que a nomeação dos cargos federais nos estados já deve começar a partir da próxima segunda-feira (4).

Articulações no CE

No Ceará, o presidente estadual do PSL, deputado Heitor Freire, é quem está coordenando as negociações com os aliados e a Casa Civil. Desde a semana passada, ele vem se reunindo com parlamentares da bancada cearense, para fechar aliança em torno do presidente Jair Bolsonaro. Nas contas do dirigente, até agora, nove deputados federais e um senador - Luís Eduardo Girão (PROS) - confirmaram apoio ao novo Governo.

"Ainda estou entrando em contato com o AJ (deputado Antônio José Albuquerque) e com o Denis Bezerra, estou apresentando os ideais do Governo Jair Bolsonaro e, principalmente, as nossas votações esse ano. Dentre elas, temos a principal, que é a reforma da Previdência, que precisa de Emenda Constitucional, ou seja, uma votação onde a gente precisa de muitos votos".

Até o momento, Heitor Freire já se reuniu com o deputado federal reeleito Domingos Neto (PSD) e com o deputado federal eleito Capitão Wagner (PROS). A ideia, conforme destacou, é que ele se reúna primeiro, individualmente, com cada parlamentar e, depois, organize uma reunião com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em Brasília.

O dirigente acrescenta que vai fazer uma checagem dos nomes indicados pelos aliados antes de oficializar as nomeações. "Aqui em baixo (no Ceará), vou citar se esse nome é adequado, se tem o atributo para a função, mas o ministro é que vai ter soberania para dar a palavra final. Ele pode pedir para apresentar dois, três nomes".

Resultados

Presidente do PROS no Ceará, o deputado Capitão Wagner confirmou o apoio e disse estar "à disposição" para indicar nomes para órgãos federais no Ceará. "Nunca condicionei minha posição em Brasília a indicações, mas, se a gente puder corroborar com algum quadro, vai estar trabalhando para indicar pessoas que deem resultado na qualidade do serviço público".

O deputado federal reeleito Domingos Neto (PSD) é outro que está na base governista em Brasília, apesar do seu partido fazer oposição ao PSL no Estado. "Minha conversa (com Heitor Freire) foi boa, mas ainda tudo muito inicial. Critérios técnicos garantirão bons nomes. Acho que todos os deputados da base serão contemplados", avalia.

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