Famílias com tradição na política se perpetuam no Legislativo

Vários dos eleitos para a AL e para a Câmara dos Deputados têm grau de parentesco com veteranos. Novatos, porém, defendem méritos próprios

Escrito por Renato Sousa , renato.allan@diariodonordeste.com.br

Os novos nomes na Assembleia Legislativa e na bancada cearense na Câmara dos Deputados não são, em alguns casos, tão novos assim. Dentre os eleitos no último domingo (7), pelo menos sete dos 17 novatos que ocuparão cadeiras na Assembleia vêm de famílias já envolvidas na política. O mesmo vale para seis dos novos 13 deputados federais.

No Legislativo estadual, o destaque é Érika Amorim (PSD), esposa do prefeito de Caucaia, Naumi Amorim (PMB), sétima candidata mais votada, com mais de 86 mil sufrágios. Ela, entretanto, não está sozinha. Marcos Sobreira (PDT), filho da deputada estadual Mirian Sobreira, também foi eleito pela primeira vez. A mãe, ex-primeira-dama e ex-secretária em Iguatu, desistiu de concorrer à reeleição.

Legenda: O sociólogo Pedro Bezerra comemorou a vitória, no domingo, ao lado do pai, Arnon, prefeito de Juazeiro

Patrícia Aguiar (PSD) é outro nome nessa lista: ex-prefeita de Tauá, ela é mãe do deputado federal Domingos Neto (PSD) e esposa de Domingos Filho (PSD), ex-deputado estadual e conselheiro em disponibilidade do Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE), que abandonou a disputa após ter a candidatura indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE).

Nelinho (PSDB), por sua vez, é filho de Raimundo Freitas, ex-prefeito de Russas; e Romeu Aldigueri (PDT), ex-prefeito de Granja, é primo do deputado estadual Gony Arruda (PSD), apesar de os dois não serem do mesmo grupo político na cidade.

O governador Camilo Santana (PT) também conseguiu emplacar um nome na Casa para 2019. O cunhado do petista, Fernando Santana, que perdeu a disputa pela Prefeitura de Barbalha em 2016, obteve 95 mil votos e foi o quarto mais votado.

Câmara

Na bancada federal, Mauro Filho (PDT), quinto mais votado com 157 mil votos, além da longa carreira como Secretário da Fazenda, tem uma família de tradição política: seu pai, Mauro Benevides (MDB), foi senador, chegando a ser primeiro vice-presidente da Constituinte de 1988. Já Eduardo Bismarck (PDT) é filho do prefeito de Aracati, Bismarck Maia (PDT), enquanto Pedro Bezerra (PTB) é filho do prefeito de Juazeiro do Norte, Arnon Bezerra (PTB). Dr. Jaziel (PR) é casado com a deputada estadual Dra. Silvana (MDB).

Parlamentares de famílias políticas não são novidade. Na atual legislatura, há vários, como Sérgio Aguiar (PDT), filho do ex-deputado estadual e conselheiro em disponibilidade do TCE Chico Aguiar, Fernanda Pessoa (PSDB), filha do ex-prefeito de Maracanaú e deputado federal eleito Roberto Pessoa (PSDB), e Aderlânia Noronha (SD), esposa do deputado federal reeleito Genecias Noronha (SD).

Bruno Pedrosa (PP), por sua vez, é filho do ex-deputado estadual Vanderley Pedrosa (PTB). Julinho (PDT) também é filho de político: o pai, Júlio Cesar Costa, foi prefeito de Maracanaú. O mesmo acontece com Bruno Gonçalves (Patri), filho de Acilon Gonçalves (Patri), atual prefeito de Eusébio, dentre outros exemplos.

Guilherme Landim (PDT) reconhece que o nome do pai - Wellington Landim, que foi prefeito de Brejo Santo e deputado estadual por 16 anos, chegando até mesmo a presidir a Casa -, com certeza ajudou a chegar à vitória. "Meu pai foi uma referência", afirma.

Ele declara, entretanto, que seus oito anos a frente da Prefeitura de Brejo Santo também tiveram relevância no desempenho nas urnas, já que sua gestão chegou a ser premiada nacionalmente. "Tudo isso me deu uma condição aqui no Cariri para voltarmos a ter uma voz na Assembleia", diz. Guilherme Landim afirma que, mesmo com a tradição da família, pode reivindicar-se como "renovação".

Trajetória própria

Antônio José Albuquerque (PP), eleito deputado federal, usa argumentos semelhantes. "Já tive experiência, cargo publico, fiz história da minha cidade (Massapê, da qual foi prefeito)", declara, defendendo que seu pai - o presidente da Assembleia, Zezinho Albuquerque (PDT) - é apenas um elemento na equação. "Já tenho uma história dentro da política do Ceará", afirma, ressaltando que integra o grupo político dos ex-governadores Cid e Ciro Gomes (PDT).

Para ele, o desejo de renovação também contribuiu para a eleição. Para Antônio José, era a vontade do povo brasileiro livrar-se de nomes que ocupavam o Legislativo há décadas. "Também entrei nessa onda de renovação", destaca.

Opinião

Velha política, mas nem tanto

Ao olharmos os resultados eleitorais para o Legislativo, percebemos que a rede política estruturada através de relações familiares ainda consegue obter dividendos eleitorais. Essa dimensão da política tradicional é recorrente na estruturação da carreira política e na perpetuação de grupos políticos por um longo período de tempo, atravessando inclusive décadas. Podemos citar como exemplo paradigmático, a continuidade dos Távoras na política cearense. Outro aspecto observado é que essa intersecção entre família e política é reprodutora de uma ordem patriarcal. A presença feminina na política institucional e seu sucesso eleitoral resultam, em grande parte, da influência masculina familiar.

Raulino Pessoa Júnior
Cientista político (Urca)

7 dos 17 novatos eleitos têm família na política

O número se refere aos que ocuparão vagas na Assembleia Legislativa no ano que vem. Já entre os deputados federais, seis dos 13 novos têm trajetórias semelhantes

Para Antônio José Albuquerque, filho de Zezinho Albuquerque, a experiência é mais que o sobrenome

Guilherme Landim, eleito para a AL, tem o pai, Wellington Landim, como "referência"

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