Falta de limites entre municípios atrapalha acesso a serviços

Embora pareça fácil, nem toda pessoa consegue responder com precisão à pergunta: "Em que cidade você mora?". Sem a demarcação exata dos municípios, população enfrenta dificuldades de acesso à educação e saúde. O recebimento de contas, correspondências e produtos também é prejudicado

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@diariodonordeste.com.br

Limite: o termo é utilizado para indicar a separação territorial entre dois municípios. Se, em mapas online, as linhas são bem demarcadas, a mesma precisão não é verificada quando se procura na realidade. Em regiões-limite entre Fortaleza e cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), por exemplo, saber que pedaço está na jurisdição de cada Município ainda confunde muitos moradores. E acaba atrapalhando também o acesso a serviços públicos básicos, como saúde e educação.

Às margens da CE-025, caminho para o Porto das Dunas, os habitantes questionam se estão assentados em terrenos da Capital ou do Eusébio. Os papéis de cobrança do comerciante Antônio Alves da Costa, que mora na localidade há 13 anos, indicam que ele pertence a Fortaleza, embora não se saiba a qual bairro. As contas de água e internet falam em Sabiaguaba; a de energia elétrica, da Lagoa Redonda. As correspondências também chegam falando em Abreulândia e Alagadiço Novo.

"O negócio aqui é o mais bagunçado que pode existir. Quando você vai dar o endereço completo, não tem bairro definido. Agora tão querendo que isso faça parte do Eusébio", relata, ciente da possibilidade da mudança. Mas nada que o assuste, pois a maioria das crianças da região já estuda justamente em escolas do município vizinho à Capital.

A indefinição só o preocupa quando demoram a chegar as contas, bem como produtos adquiridos pela internet - sujeitos a extravio porque, às vezes, "os entregadores vão procurar pro outro lado" da rodovia estadual. "Da parte de Fortaleza mesmo, nunca fizeram nada", reclama Antônio, se referindo à ausência de políticas públicas básicas na vizinhança.

Demanda

Na localidade, as ruas cujas identificações estão apenas na cabeça dos habitantes, dada a falta de placas nos muros, também carecem de pavimentação. Demanda antiga do empresário Airton Oliveira. "Quando chove, desce um lamaçal medonho. Como é o final de Fortaleza, é esquecido. Você vai aqui na Lagoa Redonda, é tudo asfaltado. Aqui não. Aqui não tem creche, não tem colégio, não tem nada", reclama. No fim das contas, ele acha que "o pau só quebra pro lado mais fraco: o cidadão". A opinião é compartilhada pela moradora Aline Dutra, que nem titubeia quando perguntada sobre qual cidade prefere ter estampada na correspondência. "Eu ficava com Eusébio; é bem aí, eu já conheço, é bom demais. Quando tenho que resolver em Fortaleza, mandam eu ir pra uma ruma de canto, nunca vou direto só num", explica.

A microempresária Zélia Lopes, embora more na Sabiaguaba fortalezense, de acordo com os registros formais, no papel, também vota pela transferência do território para o Eusébio. "Aqui tem muita dificuldade; não tem colégio, ou posto de saúde. São coisas de que nós precisamos. Já no Eusébio eu gosto. Nunca fui negada lá. Se ficar mesmo sendo Eusébio, pra nós é uma vitória", espera.