Do Interior ao Palácio, capitão desenha um governo à sua imagem
Futuro governo Bolsonaro deve refletir os compromissos com o meio militar, com um discurso baseado em valores tradicionais e religiosos e um time guiado pelo economista Paulo Guedes e deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS)
Jair Bolsonaro, 63, nasceu na cidade de Glicério, município com 4.801 habitantes no interior de São Paulo, mas deixou a localidade aos três meses de idade, vivendo até os 18 anos em Eldorado (SP), no Vale do Ribeira. Ele retornou à cidade onde nasceu apenas em setembro, durante a campanha eleitoral.
Em sua terra natal, ele obteve 64,7% dos votos. "É um dia histórico para a cidade, que se orgulha de ter um filho seu presidente", disse o prefeito Ildo Gaúcho, do PSDB. Com queima de fogos na Praça da Matriz, a cidade comemorou a eleição do filho ilustre antes mesmo do resultado oficial.
Longe de Glicério, o "capitão paraquedista do Exército Brasileiro", como se define em suas redes sociais, foi, durante quase três décadas, um deputado sem grande destaque, do baixo clero do Congresso, mas sua apologia da linha dura o notabilizou, tornando-se uma figura controversa, identificado com a chamada "bancada BBB" (Boi, Bala e Bíblia). A imagem de deputado histriônico, com declarações classificadas como politicamente incorretas, defensor do regime militar (1964-85) e de outras posições conservadoras, foi sendo criada pelo próprio Bolsonaro ao longo de seus mandatos.
O slogan de sua campanha vitoriosa ("O Brasil acima de tudo, Deus acima de tudo") sintetiza os pilares de sua futura gestão: compromisso com os valores da família tradicional, com o conservadorismo e com a moral religiosa.
O desenho de seu futuro governo começou antes de sua campanha, quando escalou o economista carioca Paulo Guedes, um dos fundadores do Banco Pactual, para cuidar do programa econômico.
A definição do ministério deverá se acelerar nos próximos dias, mas os primeiros nomes foram confirmados ontem. O poderoso Ministério da Fazenda, que poderá ser renomeado para Economia, ficará nas mãos de Guedes. Para a estratégica Casa Civil, foi escolhido o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS). E para o Ministério da Defesa, a escolha recaiu sobre o general reformado Augusto Heleno. A negociação de apoio no Congresso deverá completar o time, em uma transição que deve finalizar em dezembro.
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