Deputados reclamam de abuso na pré-campanha

Eles reconhecem que políticos se aproveitam do poder econômico para ilícitos, mas pedem consciência do eleitor

Escrito por Redação ,
Legenda: Pronunciamentos de deputados sobre abuso de poder econômico nestas eleições têm sido recorrentes na tribuna do Plenário 13 de Maio
Foto: Foto: José Leomar

Deputados da Assembleia Legislativa que tentarão reeleição no pleito deste ano estão preocupados com o uso da força do poder econômico na pré-campanha, que, segundo alguns deles, tende a desequilibrar a disputa e pode ajudar a eleger candidatos descompromissados com a coisa pública. Fernando Hugo (PP) e Manoel Santana (PT) já fizeram diversas denúncias relacionadas ao tema na tribuna do Plenário 13 de Maio, inclusive, tendo que prestar esclarecimentos acerca de pronunciamentos sobre possíveis casos de compra de votos no Interior do Estado ao Ministério Público Eleitoral (MPE).

"Vamos ser realistas. Isso é uma prática política", disse o deputado Odilon Aguiar (PSD), sobre o abuso de poder econômico. De acordo com ele, existe uma necessidade urgente de o eleitor cearense se desvencilhar das condutas que "fazem parte do jogo", porque, em sua opinião, somente o eleitor poderá corrigir tais práticas. "As pessoas olham muito para fora e não para dentro, não fazendo as correções internas. O eleitor cearense precisa se corrigir para, depois, corrigir os outros", apontou.

O deputado Julinho (PPS), na mesma linha, afirmou que o papel do cidadão, ao ser aliciado por algum candidato, deve ser de denunciar imediatamente o autor do aliciamento. "O voto não pode ser vendido, tem que ser conquistado", disse. Segundo ele, o cidadão que vende o voto está vendendo a própria dignidade, pois não avalia o futuro e não pensa nas consequências do que está em jogo.

"Estamos aqui para podermos trabalhar pelo povo. O cidadão precisa chamar para si a responsabilidade e fazer seu papel. Infelizmente, pelas denúncias que ouvimos, percebemos que isso ainda é feito nos dias de hoje", reconheceu.

Cultura

Elmano de Freitas (PT), por sua vez, ressaltou que a compra de votos não é uma prática nova no País. "Sou mais uma geração lidando contra isso", citou. Segundo ele, a compra e venda de votos faz parte de uma cultura de parcela da sociedade, que vai desde o cidadão que só vota se tiver algo em troca até a pedidos de empregos em troca de votos.

"É uma cultura que precisamos ter esforço grande de superação. Tem a ver com grau do nível de consciência política que a sociedade tem. Então, temos isso como algo entranhado na sociedade, e há aqueles políticos que se aproveitam disso e começam a fazer negociações políticas com lideranças para definir valor dos votos", afirmou.

Já o deputado Heitor Férrer (SD) salientou que, para comprovar a existência desse tipo de negociação, basta verificar os mapas de votação das eleições anteriores e avaliar em que cidades determinados postulantes foram votados. "É só pegar o mapa de 2010, por exemplo, e ver que candidato recebeu 5 mil votos em municípios A, B e C e, na eleição seguinte, em 2014, não tirou sequer 30 votos. Não é o eleitor quem migra, é o poder econômico. Isso é a coisa mais concreta do mundo", criticou.

Desigualdade

"Não dá para compreender que um deputado tirou 5 mil votos e depois de quatro anos tirou apenas 200 no mesmo local. Isso prejudica muito, porque se pega um nome novo, que usa o poder econômico, e ele tira 50 mil, 60 mil votos, e outros conhecidos, sem o mesmo poder econômico, não", reclamou Férrer.

O deputado Roberto Mesquita (PROS), por sua vez, disse ao Diário do Nordeste que a compra e venda de votos é algo que já está institucionalizado no Ceará e, inclusive, ocorre de diferentes maneiras, indo desde a liberação de verbas para associações até a distribuição de dinheiro junto a eleitores que vendem seus votos no pleito.

Ainda de acordo com o parlamentar, as práticas no Interior do Estado são as mesmas, sendo realizadas por meio de cooptação por aqueles que estão no poder. "Muitas vezes, sob pressão desumana para com as pessoas que precisam trabalhar. As pessoas estão tão necessitadas de emprego que encontram no período eleitoral o ambiente propício para tirar vantagens, e os mesmos nomes vão se perpetuando no poder. A renovação, quando tem, é de pai para filho".

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