Bancada feminina do Ceará diminui na Câmara e na AL neste ano

Em 2018, apenas uma deputada federal foi eleita no Ceará e seis dos 46 assentos da AL serão de mulheres

Escrito por Letícia Lima ,

Elas são maioria no Brasil - mais de 51% da população -, mas pouco são vistas nos espaços públicos de poder do País. Ainda que o percentual de mulheres eleitas em 2018 para o Congresso Nacional tenha aumentado 5% em relação à bancada atual, a presença feminina está longe do ideal. No Ceará, a cada eleição, mais mulheres têm disputado cargos políticos, principalmente no Legislativo, mas poucas tiveram sucesso. Para pesquisadoras entrevistadas pela reportagem, essa dificuldade pode estar ligada a uma barreira dentro dos partidos que não é nova: desigualdade de gênero.

O Diário do Nordeste fez um levantamento no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) e verificou que o número de candidatas cresceu nas últimas quatro eleições gerais no Estado, ao passo que o número de mulheres eleitas para o Parlamento cearense vem diminuindo. Enquanto em 2014, foram eleitas duas deputadas federais e sete estaduais, no ano passado, foi eleita apenas uma mulher para a bancada federal, Luizianne Lins (PT), e seis mulheres na Assembleia Legislativa.

Regras eleitorais

A baixa presença das mulheres no cenário político continua, mesmo com regras previstas pela legislação eleitoral. Desde 1997, os partidos são obrigados a lançar para o Legislativo ao menos 30% de candidatas. Nas eleições de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que os partidos destinassem 30% do fundo público de financiamento para candidaturas femininas.

Para a socióloga Danyelle Nilin, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), apesar das leis, a maioria das mulheres não disputa em pé de igualdade. "Tem que ter capital econômico, social. Em grande parte, as mulheres eleitas carregam sobrenome de outros políticos. Há a ideia de que as mulheres que ocupam cargos não necessariamente ocupam pela trajetória delas".

A doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ana Rita Fonteles acrescenta uma questão cultural que, para ela, é predominante.

"Se construiu a ideia de que as mulheres são do espaço privado, e a tentativa de provar que a atuação delas podia se estender para além da casa está no cerne de toda argumentação em torno da participação das mulheres na política. Essa questão das cotas não sanou o problema, porque os partidos continuam extremamente hierárquicos, excludentes", aponta.

Elas

Embora venha de uma família de políticos, a conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Patrícia Saboya, já sentiu preconceito no meio quando disputou a Prefeitura de Fortaleza em 2000. "Preconceito expresso em letras garrafais nas ruas da cidade, dirigido à mulher. Algo muito forte! Preconceito à participação da mulher sempre existiu em maior ou menor grau".

Patrícia já foi vereadora de Fortaleza, deputada estadual por dois mandatos e foi a primeira mulher eleita senadora do Ceará, em 2002. Já Silvia Cavalleire não teve a mesma sorte ao disputar uma cadeira de deputada federal no ano passado. Integrante da União Nacional LGBT, ela conta que sentiu na pele o machismo.

Dificuldades

"Muitos homens e mulheres não acreditaram que nós éramos capazes de representar os interesses da população cearense. Temos um intenso debate sobre se a mulher pode amamentar em público, se ela tem o direito ao aborto ou não e a luta das mulheres travestis e transexuais que precisam provar cotidianamente que somos mulheres, independentemente das razões biológicas", ressalta.

Reeleita para o segundo mandato, a deputada Augusta Brito (PCdoB) diz que a luta por engajamento das mulheres vai além da bandeira política. "Queremos igualdade salarial, queremos trabalhar com o que realmente a gente se identificar, não o que vem sendo imposto durante muitos anos culturalmente. Queremos ter a liberdade de escolher realmente o que queremos ser e de participar de todos os processos", defende.

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