Aliança marcada por instabilidades no Ceará

Mal-estar entre Cid Gomes e petistas não é novo, mas aliados afastam rompimento após episódio da última segunda-feira (15)

Escrito por Letícia Lima e Miguel Martins , politica@diariodonordeste.com.br

Não é de hoje que os irmãos Cid e Ciro Ferreira Gomes, atualmente filiados ao PDT, vivem turbulências com o Partido dos Trabalhadores (PT) dentro e fora do Ceará. Embora o senador eleito Cid Gomes tenha confrontado, pela primeira vez, na última segunda-feira (15), a sigla petista, de forma mais dura, é fato que, ao longo da história recente, a aliança entre o PT e o grupo político comandado pelos irmãos foi marcada por altos e baixos no Estado e no País. 

Ainda assim, não é unânime a influência dos ex-governadores sobre a cúpula petista no Ceará. Segundo um integrante do PT, 78% dos filiados são ligados ao grupo do governador Camilo Santana – maior liderança do partido no Estado – e, consequentemente, a Cid e Ciro Gomes. Já o restante dos correligionários, nas palavras dele, “tomam decisões de acordo com o momento”, muitos ligados à ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, desafeto político dos irmãos. 

Simpatia a Cid

Na avaliação de integrantes da legenda petista no Estado, a ala mais “forte” de simpatizantes no PT tem relação com Cid. “Isoladamente”, há filiados que possuem relação próxima a Ciro. Interlocutores se surpreenderam com a elevação de tom do senador eleito contra o partido. Eles frisam que Cid adota um perfil mais conciliador, apesar de já ter trocado farpas com Luizianne, em 2012, na disputa pela Prefeitura de Fortaleza. 

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À época, ela indicou o atual deputado estadual Elmano de Freitas para a sucessão municipal, entrando em rota de colisão com o grupo do então governador, que propôs lançar outro candidato que dialogasse com todas as alas do PT e com os seus interesses. Esse desacordo resultou na eleição do prefeito Roberto Cláudio, àquela altura no PSB, partido dos irmãos Ferreira Gomes. 

Para o presidente estadual do PDT, André Figueiredo, o desabafo de Cid Gomes ao afirmar que o PT vai perder o segundo turno da eleição presidencial, caso não faça um mea-culpa, é a senha de uma nova postura que o partido deve ter em relação à legenda petista. “Nós não estaremos do mesmo lado nas defesas que teremos em algumas situações. De forma alguma seremos liderados por eles, mesmo reconhecendo que são a bancada maior. Em nível de posicionamentos, vai ser bem diferente, em nível de postura”. Para o dirigente, a aliança entre PT e PDT no Ceará não deve ser abalada, diferente da situação em âmbito nacional. 

O vereador Guilherme Sampaio (PT), da corrente ligada à deputada federal Luizianne Lins, por sua vez, critica a “grosseria” de Cid, mas coloca que os efeitos de tais animosidades serão avaliados depois das eleições. 

“Cid foi infeliz e incorreto, após ter sido eleito com o apoio do PT, em reagir com a grosseria de ontem (segunda-feira) à frustração de não ter alcançado com Ciro os votos para ir ao segundo turno. Acho que não devemos perder tempo nenhum discutindo isso agora. O que nos interessa é lutar ao lado dos que querem defender a democracia e virar o jogo. O resto se avalia depois da eleição”, sustenta.

Consequências

O líder do Governo Camilo Santana na Assembleia Legislativa, deputado Evandro Leitão (PDT), considera que as críticas de Cid Gomes trarão consequências graves à candidatura de Fernando Haddad, mas pondera ser necessário superar o momento de crise por conta de “um projeto maior”. “Temos uma eleição em que o candidato que é nosso oponente trará sérios prejuízos para a Nação. Temos que deixar isso de lado”. 

O deputado Elmano de Freitas (PT), por sua vez, destaca a importância do apoio do grupo liderado por Cid Gomes no Ceará e conclama seus pares a não “jogarem lenha na fogueira”. “O Ceará é muito importante para a vitória do Haddad. Nós, do PT, não temos que colocar lenha na fogueira, porque isso só interessa ao nosso adversário”, reclama. Para ele, o momento é de os petistas sentarem com o PDT e ouvirem críticas. “O PT tem mea-culpa a fazer, todos os partidos têm. Nosso aliado fez uma crítica dura e temos que ouvir essas críticas”. 

Já o presidente interino do PT Ceará, Moisés Braz, diz que a situação pode inviabilizar a vinda do presidenciável Fernando Haddad ao Estado, neste segundo turno. Segundo o dirigente, a agremiação deve se reunir ainda nesta semana para avaliar as falas de Cid Gomes, visto  que haverá evento em prol da candidatura de Haddad no sábado, em Fortaleza. Ele nega que o PT e o grupo político de Cid Gomes tenham rompido, mas ressalta que será preciso muito diálogo para desfazer o mal-estar do episódio. 

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