Acordo entre Camilo e Eunício enfrenta resistência de aliados

O pedetista Ciro Gomes, presidenciável da sigla, diz que não aparecerá na fotografia de chapa de Camilo com Eunício

Escrito por Edison Silva - Editor de Política ,

Ciro Gomes (PDT), na quinta-feira, antes de falar para empresários cearenses, reportou-se ao episódio da União Pelo Ceará, de 1962, quando Virgílio Távora foi eleito governador do Estado pela primeira vez, para ressaltar suas reservas quanto a uma aliança, como se prenuncia, com o MDB do senador Eunício Oliveira, ainda adversário e desafeto dele, desde a eleição de 2014 vencida por Camilo Santana contra o próprio Eunício.

No início da década de 1960, os políticos que mais se digladiavam na política nacional, e consequentemente em todos os estados da federação, representando a UDN (União Democrática Nacional) e o PSD (Partido Social Democrático), se uniram no Ceará, aparentando ser, a coligação resultante do acordo deles, uma força invencível. E realmente não foi, pois teve uma baixa na disputa por vagas no Senado. Carlos Jereissati (PTB), como adversário, foi eleito senador, juntamente com o pessedista Wilson Gonçalves.

Para o presidenciável do PDT, ainda está muito recente a troca de insultos entre eles, por conta da eleição do governador Camilo Santana (PT), e da reeleição do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). Ele admite que o eleitorado pode repugnar a união dessas forças.

"No momento em que lhe falo, assentado em pesquisas, ainda não há naturalidade da percepção popular para isso". Na entrevista concedida ao repórter Miguel Martins, deste Diário do Nordeste, registrada na página seguinte desta edição, em outras palavras ele afirma que não será fotografado ao lado dos candidatos da chapa do petista Camilo com o emedebista Eunício.

Esdrúxulas

Não há a figura do impossível na política nacional. A irresignação de hoje do pedetista pode dar lugar, pelas conveniências do momento oportuno, ao consentimento aparente, e todos se confraternizarão nos palanques como se nada houvesse acontecido entre eles, embora, intimamente, todos tenham ressalvas a fazer sobre o comportamento futuro do outro, sem esquecerem do grande juiz que é o eleitor, o competente para dizer se quer ou não continuar experimentando situações esdrúxulas do tipo, sem que qualquer deles faça um mea culpa, pedindo perdão pelas trocas de aleivosias, ao longo de quase três anos, tempo do rompimento, quando o ex-governador Cid Gomes coordenava sua substituição e negou apoio para a postulação de Eunício.

No último sábado, neste espaço, nos reportamos aos muitos comentários e especulações a serem registrados até o período de realização das convenções partidárias, quando, oficialmente, serão efetivadas as coligações e candidaturas.

A chapa do governador Camilo Santana, com ou sem inclusão do senador Eunício Oliveira, por óbvias razões, será a maior geradora de fatos. Ciro, pelo exercício da sua liderança e da condição de candidato a presidente da República, terá poder de veto na formação da chapa majoritária da situação, acrescentando-se a essa sua condição o fato de não interessar ao seu grupo político, fortalecer Eunício para vir a ser, como no passado recente, potencial adversário após o próximo pleito eleitoral.

Musculatura

Foi no curso do seu mandato de senador, eleito com o apoio do grupo político dos irmãos Ciro e Cid Gomes, que Eunício adquiriu musculatura para enfrentá-los, tanto na campanha estadual seguinte à sua eleição de 2010, no caso em 2014, quanto na disputa pela Prefeitura de Fortaleza, em 2016, quando os dois irmãos empenharam todas as suas forças em favor da reeleição de Roberto Cláudio. A possibilidade de Eunício estar fortalecido em 2020 e 2022, as duas próximas disputas, municipais e estadual, também é um complicador para ser fechada a coligação entre o PDT, PT e MDB para a disputa deste ano.

Ainda lembrando eleições passadas, vale citar a de 1970, quando o governador César Cals, no exercício do cargo, indicou o à época deputado federal Edilson Távora para disputar a vaga de senador, na chapa com Adauto Bezerra, designado pela Revolução de 1964 para o Governo do Estado. Um dos três Coronéis que comandavam a política do Ceará, Virgílio Távora, discordou. Ausentou-se da campanha e Mauro Benevides, do original MDB, a única agremiação de oposição da época, muito pequeno realmente, conquistou o seu primeiro mandato de senador.

Participação

Os adversários do governador Camilo Santana e dos irmãos Ciro e Cid Gomes estão admitindo a reedição da eleição de 1970, embora, na verdade, ainda esteja longe de formatar a sua chapa majoritária deste ano.

Mesmo lançando os dois candidatos ao Senado, a oposição, pelos questionamentos que continuarão a ser feitos quanto à participação de Eunício na relação de candidatos governistas, pode optar por concentrar toda a sua mobilização para um só nome ao Senado, na tentativa de fragilizá-lo, posto a ser o motivo da frustração oposicionista por ter se afastado do grupo e se aliado ao Governo estadual.

O senador fez e continua fazendo um trabalho de sensibilização de antigos aliados, convictos adversários de todo o esquema governista no Estado, para continuar votando nele. Chegou a ter a garantia de apoio, mas a retomada de posição, com a articulação do senador Tasso Jereissati (PSDB), já se tem notícia de reversão do quadro, sob o argumento de que oposicionista não vota em candidato governista.

Último momento

Tanto oposição quanto Governo só tornarão públicas as suas chapas nos momentos antecedentes à realização das convenções, em julho. São estilos parecidos de tucanos e pedetistas, hoje representados por Ciro e Cid Gomes, de não anteciparem as indicações de candidatos. No último pleito estadual, os nomes de Camilo e de Mauro Filho, candidatos ao Governo e ao Senado, só foram conhecidos no último momento, ou seja, instantes antes da realização da convenção que homologou os nomes deles e dos candidatos proporcionais.

A surpresa da indicação do nome de Camilo, para disputar o Governo do Estado, inclusive, chegou a motivar insatisfações no grupo político de Cid, a partir de Zezinho Albuquerque, hoje presidente da Assembleia, e de Mauro Filho, ambos pretensos candidatos ao cargo. Eles chegaram até a recusar a oferta de disputarem a vaga de senador e de vice-governador, problema solucionado posteriormente.

Neste ano, a dúvida que persistirá no meio situacionista, até a realização da convenção, será a oficialização ou não da coligação com o MDB, hoje, apesar de todas as demonstrações de proximidade entre Camilo e Eunício, é motivo de inúmeros questionamentos nos ambientes mais reservados de governistas.

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