A difícil reeleição dos parlamentares federais

Dependentes dos "vaqueiros", os reais intermediários dos votos, deputados estão ameaçados de derrota

Escrito por Edison Silva - Editor de política ,
Legenda: Ciro Gomes anunciou o nome do deputado André Figueiredo (de camisa verde), ao seu lado no evento pedetista da última quinta-feira, em Fortaleza, como o seu candidato ao Senado Federal nas eleições deste ano
Foto: FOTO: KLEBER A. GONÇALVES

Aproximadamente metade da bancada federal cearense não será reconduzida à Câmara dos Deputados. Neste momento que antecede a realização das convenções partidárias, para a homologação das candidaturas, e das coligações, é maior a preocupação dos candidatos à Câmara, como de resto a dos pretendentes às vagas na Assembleia Legislativa, pois da composição das convenções depende a sorte de muitos dos pretendentes a mandatos proporcionais. Neste ano, o quociente eleitoral, isto é, o número mínimo de votos para um candidato ser eleito deputado federal é mais ou menos 200 mil votos.

Nas projeções dos experientes políticos cearenses, da relação de possíveis candidatos, hoje apenas dois poderão chegar, ou superar esse número de sufrágios: o Capitão Wagner (PROS) e Mauro Filho (PDT), sendo a projeção para o Capitão bem maior que a deste.

Em razão disso, todos os demais dependerão dos votos das legendas, sobretudo aqueles sufrágios dados aos candidatos menos votados, chamados "buchas", ou das coligações, o somatório dos votos dados a todos os concorrentes dos partidos agrupados. É em razão dessa realidade que continua sendo grande a corrida em busca de votos no Interior, e as negociações para formação de blocos que lhes possam beneficiar.

Além dessa natural preocupação de quase todos os candidatos, ainda há a expectativa quanto à disposição do eleitor, desencantado, por razões várias, inclusive quanto à má avaliação do desempenho dos atuais políticos, de ter ânimos para ir votar no dia 7 de outubro vindouro.

Recadastramentos

Na última eleição, quando os partidos e seus representantes eram bem menos execrados, 1 milhão e 900 mil eleitores deixaram de votar, por não terem comparecido às seções eleitorais ou inutilizando o voto. Esse número gerou um percentual de 30,84% dos eleitores aptos a votar, um total de 6 milhões, 268 mil e 909 pessoas devidamente habilitadas junto à Justiça Eleitoral cearense.

Hoje, o número de eleitores no Estado registra uma pequena variação, chega a 6 milhões, 342 mil e 684, após as intensas campanhas da Justiça Eleitoral para os recadastramentos de eleitores em muitos municípios do Estado. A expectativa de um quociente eleitoral de aproximadamente 200 mil votos é feita com base numa abstenção, votos nulos e brancos na mesma proporção do pleito anterior.

Este resultado é encontrado quando é feita a divisão dos votos válidos com o número de cadeiras para a Câmara Federal: 22. Em 2014, o total de votos válidos somou 4 milhões 367 mil e 020, gerando um quociente de 198 mil e 501 votos para a eleição direta de cada deputado.

O trabalho de captação de votos, nas eleições deste ano, promete ser mais difícil que nos pleitos anteriores, sobretudo para deputado federal, até pelo seu distanciamento do eleitorado ao longo dos últimos anos.

Dependentes

Além de ficarem bem mais dependentes do dinheiro para os "vaqueiros", aqueles responsáveis pela intermediação, inclusive prefeitos e vereadores, aos parlamentares federais, em dosagem bem maior que aos seus colegas estaduais, são atribuídas responsabilidades pela má gestão do Governo Federal, assim como aos escândalos constantes, realmente degradantes, que conseguiram indignar muitos brasileiros.

A expectativa dos observadores é que o PROS do Capitão Wagner, sem coligação, e a aliança liderada pelo PDT dos irmãos Ciro e Cid Gomes, capitalizarão a grande maioria dos votos proporcionais para o Legislativo Federal. Wagner admite somar para sua legenda pouco mais de 600 mil votos, contando com a possibilidade de só ele chegar perto dos 400 mil, elegendo até 4 deputados. Há restrições a essa avaliação dele. Os governistas esperam ter votos para eleger uma bancada entre 14 e 15 parlamentares. Também esta avaliação é questionada.

Sem citar nomes, observadores mais atentos especulam que o PROS, com o somatório dos votos do Capitão Wagner, fará uma bancada de 3 deputados federais, o PT reelegeria 2, o PSDB faria 2, o MDB também 2, seguidos de PSD, PTB, SD (Solidariedade), PCdoB, DEM, PR e uma coligação de pequenos, todos com um deputado cada, ficando as 4 restantes vagas para o pessoal do PDT, com 8 candidatos. Só algumas surpresas, avaliam os diversos patronos desse quadro, poderão alterar a posição de uma ou outra agremiação.

Majoritária

No evento da última quinta-feira, em Fortaleza, Ciro Gomes voltou a se posicionar contra a participação do senador Eunício Oliveira (MDB) na chapa majoritária do PDT com o governador Camilo Santana, ao destacar ser a favor da candidatura do deputado federal André Figueiredo ao Senado.

O Outro candidato ao Senado Federal, na chapa de Camilo é Cid Gomes, que, recentemente, admitiu ter a coligação apenas um candidato àquela Casa legislativa, sinalizando que o governador poderia votar em Eunício, se este for candidato à reeleição de forma avulsa.

Ciro, no mesmo momento que defendeu a candidatura de André ao Senado, foi mais uma vez cáustico na adjetivação ao citar os nomes de quem os processou por conta de suas acusações, como o presidente Michel Temer, o senador Eunício Oliveira e Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, hoje cumprindo pena por crime de corrupção, enfatizou que nunca foi processado por pessoas humildes, mas só por "puro corrupto, puro picareta, puro assaltante do dinheiro do povo". Quando citou Eunício ele disse que só do senador responde a mais de 70 ações.

Nenhum dos políticos, realmente próximos de Ciro e Cid, acreditam na coligação do PDT com o MDB cearense, para contentar uma candidatura à reeleição do senador Eunício. Cid, mais contido, não faz pronunciamentos públicos como os de Ciro, contra. Aliás, ao longo de todo este tempo de aproximação das relações do governador Camilo Santana com Eunício, Cid só conversou com o senador uma vez, quando o emedebista foi ao seu apartamento. A conversa de ambos, no entanto, não chegou ao ponto desejado por Eunício, pois nenhuma esperança foi lhe dado de formalização da coligação.

Agora, depois da defesa de Ciro de uma candidatura do deputado André ao Senado, só resta esperar mais uns dias, até 5 de agosto, quando o Calendário Eleitoral fixa tempo final para a oficialização das candidaturas e das coligações partidárias.

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