"A crise de 2016 destruiu o sistema", diz governador Camilo Santana

Chefe do Executivo admite que a área precisava de uma intervenção, repete que será duro com o crime e não confirma a divisão por facções nas prisões

Escrito por Inácio Aguiar ,

Em uma sala de comando, cheia de autoridades da Segurança, o governador dava entrevista enquanto seus auxiliares ouviam com atenção. Em meio às telas gigantes com imagens das ruas, silêncio. O secretário de Segurança, André Costa, ajudava nas respostas, só com informações técnicas. Camilo admitiu a amplitude do problema. "A crise de 2016 destruiu o sistema (prisional). Tivemos que reconstruir". O governador não confirma nem nega a divisão dos presídios por facção, mas bate na mesa para dizer: "o Estado continuará sendo duro com o crime. Lá dentro e aqui fora". E classifica o toque de recolher como uma "guerra de comunicação, com fake, mentiras e informações falsas".

O que motivou e quando foi a decisão de mudar a administração penitenciária?
Isso faz parte de um planejamento. Quando assumi o governo, em 2015, construí um plano. Nele constava ação na área policial, sistema no penitenciário e ação de prevenção, sociais. O plano tem esses três vieses. Passamos por uma crise grande em 2016, que destruiu o Sistema (Prisional). Passei dois anos reconstruindo, ou seja, investindo na parte de infraestrutura e construindo novas unidades.

Nesse período, fiz um novo concurso para agente penitenciário porque qualquer mudança precisava de mais gente. Dobrei o número, e agora no fim do ano tomei a decisão de que era uma área que precisava de uma intervenção mais forte do Estado. Para isso, separei a Secretaria, criei uma secretaria nova e fui buscar uma pessoa que nos ajudou aqui em 2016, fez um grande trabalho em Rio Grande do Norte, convidei e ele aceitou. A partir daí, dei toda autonomia, carta branca, para que o secretário fizesse as ações necessárias.

Os presídios cearenses estão divididos por facções?
O que eu posso dizer é que nós tratamos criminosos como criminosos, independente de ter cometido qualquer crime.

Mas lá dentro, eles estão divididos dessa maneira, por facções?
Nós tratamos criminosos como criminosos e serão tratados no Ceará dessa mesma forma.

A quantidade de apreensões mostra um descontrole dentro dos presídios, não é?
O que o novo secretário está fazendo é cumprir a lei no que se refere ao sistema prisional. As mudanças que foram necessárias serem feitas estão sendo feitas para cumprir a lei.

Além da Polícia e das forças de Segurança, quais outros setores do governo o senhor convocou para ações emergenciais na crise?
É pra todos estarem em alerta diante da situação. Quem participa, a orientação da Casa Civil, repassamos para todas as secretarias. Exemplo, a Secretaria de Saúde, onde estão as áreas mais críticas? E a PM se desloca, mas mais à frente está a SSPDS.

Em relação ao comando das ações criminosas, o Estado tem segurança sobre de onde estão partindo as ordens?
Temos um trabalho de inteligência, 185 pessoas já foram presas, têm vários mandados de busca... E nossa determinação de transferência de líderes de grupos criminosos de dentro dos presídios para os presídios federais.

No caso da morte de líderes do PCC, a presença deles aqui foi descoberta por acaso...
Por isso, eu sempre defendi que a questão da violência no Brasil precisa ser uma questão nacional. Precisamos de um plano, uma estratégia, uma pactuação, centros integrados de inteligência que possam passar informações de um estado para outro. Porque a dinâmica do crime se transnacionalizou. E quem tem que coordenar isso é a União, não pode um Estado sozinho coordenar. Quem tem que ter esse papel é o Governo Federal.

Essa é minha briga durante os primeiros 4 anos. Acho que o Brasil deu um passo grande quando aprovou o Susp, agora neste ano já temos um fundo, é pouco recurso, são quase R$ 2 bilhões, mas já é um passo importante. Já tem um plano, tem uma estratégia, inaugurou-se o primeiro centro integrado do Nordeste e ele já está ajudando.

Nessa crise, houve embate político com o presidente Bolsonaro. Como será essa relação pra frente?
A população deve estar sempre acima da política. Eu darei todo o apoio ao Governo Federal naquilo que for do interesse do meu País. Pra mim a eleição já passou, sou o governador de todos os cearenses. O que é importante é trabalharmos pelo Brasil e pelo Ceará.

Não tive relação com Bolsonaro ainda. Tive relação com Moro que foi muito receptivo, prestativo, disponibilizou vagas no sistema presidiário federal, mandou em imediato as tropas federais, tem sido uma relação muito positiva até o momento".

O senhor tem conhecimento das ações que Moro pretende implantar na Segurança?
Discutimos na reunião com os governadores eleitos, ele colocou algumas sugestões e o que pedimos é que ouvisse os governadores porque o problema está no dia a dia. Ficou combinado que ia ter uma reunião para ouvir quais sugestões, opiniões dos estados.

O toque de recolher para o comércio é algo grave. Como resolver?
Está havendo uma guerra de comunicação, muita mentira, muito fake, muita ameaça. Nossa determinação é que a população denuncie, que a gente coloque o máximo de policiais nas ruas.

As entidades serão ouvidas?
Eu estou querendo fazer uma reunião com todos os segmentos da sociedade, amanhã ou quinta-feira, e ouvir opiniões, dar todo o apoio ao transporte urbano, nossa meta é garantir que funcione, estamos disponibilizando mais de mil PMs pra isso, garantir a coleta de lixo, então é pra isso que eu tenho demandado apoio das tropas. O importante é que possamos garantir os serviços essenciais à população, garantir a ordem.

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