Polícia Federal prende suspeitos de lavar dinheiro para o tráfico internacional de drogas

Um dos doleiros presos afirmou ter ligação com Aécio Neves (PSDB), Renan Calheiros (MDB), Fernando Collor de Melo (PTC) e Randolfe Rodrigues (Rede)

Escrito por Folhapress ,

A Polícia Federal prendeu, nesta terça (15), oito pessoas ligadas a uma rede de doleiros que, segundo as investigações, tinha complexa e organizada estrutura para lavar o dinheiro do tráfico internacional de drogas.

O sistema criminoso estaria a serviço de Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, conhecido como o "embaixador do tráfico" e apontado pela PF como o maior narcotraficante do Brasil e um dos maiores do mundo.

Após a prisão dele, no ano passado, a PF analisou documentos, planilhas, depoimentos e outras informações para identificar a rede de doleiros que ele usava para lavar o dinheiro do comércio de drogas.

Planilhas eletrônicas indicam que, só entre 2014 e 2017, ele negociou 27 toneladas de cocaína e recebeu pelo menos US$ 138,2 milhões, o equivalente a quase R$ 500 milhões em valores atualizados.

Doleiros

Em geral, os doleiros atuam de duas formas. Recebem reais em espécie no Brasil e disponibilizam dólares em contas no exterior, ou recebem dólares no exterior e disponibilizam reais em espécie no Brasil. Isso sem comunicar as autoridades bancárias e fiscais dos países envolvidos.

Nas investigações, a polícia verificou também a atuação de dois doleiros já conhecidos em operações anteriores, como a Farol da Colina (caso Banestado) e a Lava Jato.

Ligação com políticos

Carlos Alexandre Souza Rocha, o Ceará, já havia firmado um acordo de colaboração premiada na Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF) serão comunicados sobre a prisão do réu colaborador para avaliar as consequências da quebra do acordo.

Em delação, o doleiro disse ter feito repasses para políticos como os senadores Aécio Neves (PSDB), Renan Calheiros (MDB), Fernando Collor de Melo (PTC) e Randolfe Rodrigues (Rede). Ceará atuava junto ao doleiro Alberto Youssef. Em seu acordo de colaboração, ele disse que tinha contato com Youssef por vender vinhos, relógios e joias.

A polícia agora entende que Ceará tinha dinheiro em espécie não por essas atividades, e sim por trabalhar para o tráfico. Ele encabeçava um dos núcleos da rede.

Segundo a PF, políticos investigados na Lava Jato podem ter recebido, sem saber, propina paga com dinheiro movimentado pelo tráfico.

"O criminoso que vai receber propina não vai perguntar: 'Isso é do tráfico de drogas?'. O dinheiro sujo não tem origem nem dono", afirmou o delegado Roberto Biasoli.

Outro doleiro alvo da PF é Edmundo Gurgel, que já havia sido preso em 2004. Os demais faziam papel de "maleiros" para os operadores ou de "laranjas" para Cabeça Branca.