MP-RJ não tem dúvidas de que morte de Marielle está ligada a milícias

Segundo o procurador-geral de Justiça, o ministério público estadual e a Polícia Civil trabalham com linhas de investigação diferentes

Escrito por Agência Brasil e Estadão Conteúdo ,

O procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, disse hoje (14) não ter dúvidas de que o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes está relacionado a grupos de milicianos. Gussem discursou ao ser reconduzido ao cargo para mais dois anos de mandato à frente do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.

"Não tenho dúvidas em afirmar que o caso Marielle e Anderson Gomes está relacionado a essas organizações criminosas", disse ele. O assassinato completa hoje dez meses e segue em investigação sigilosa na Polícia Civil e no próprio Ministério Público estadual.

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Gussen afirmou que as milícias representam "uma forma perversa de plantar o terror e o medo na sociedade" e destacou que, quando confrontadas pelo aparato estatal, elas reagem "com severos ataques a bens públicos e ameaças a autoridades". O procurador-geral de Justiça lembrou ainda o ataque a tiros sofrido ontem pela delegada e deputada estadual Martha Rocha (PDT), que não se feriu com os disparos contra seu carro, mas teve o motorista baleado. A parlamentar relatou ter sofrido ameaças de milicianos .

"Espero que o lamentável episódio ocorrido ontem com a deputada estadual Martha Rocha não seja mais um capítulo dessa triste e grave história", disse.

Compromisso com o caso

A Anistia Internacional reivindica, em comunicado, que as autoridades do Estado do Rio de Janeiro venham a público se comprometer com a solução correta do crime. Marielle Franco, defensora de direitos humanos e vereadora no município do Rio de Janeiro, foi assassinada a tiros na noite de 14 de março de 2018 junto com o motorista Anderson Gomes, que dirigia o veículo onde estavam. 

"O ano de 2018 terminou sem que o Estado do Rio de Janeiro, sob intervenção federal na área de segurança pública, tenha conseguido solucionar o caso. A nova gestão do governo do Estado tem o dever de assumir esta responsabilidade e não deixar o caso sem solução. O novo governador e o novo chefe de polícia deveriam vir a público se comprometer com a investigação correta do assassinato de Marielle Franco desde o início de sua gestão", afirma Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional.

"A demora na solução do assassinato de Marielle Franco tem enormes impactos negativos, pois gera uma espiral de medo e silêncio entre ativistas, defensores de direitos humanos, jovens mulheres negras, comunidade LGBT e todas as pessoas e grupos que, de alguma forma, ela representava. Mas, além disso, há uma enorme preocupação com o fato de que algumas das altas autoridades do Estado do Rio de Janeiro estiveram envolvidas em um episódio de violência contra a memória e a imagem de Marielle", disse Werneck.

Duas linhas

Ao fim da cerimônia de recondução ao cargo, o procurador-geral de Justiça explicou que o ministério público estadual e a Polícia Civil trabalham em duas linhas de investigação distintas no caso Marielle. Enquanto os promotores cruzam dados do caso com outros processos e organizações criminosas identificadas, a Polícia Civil se debruça sobre o crime de forma mais específica.

"Elas necessariamente não são divergentes, podem até ser convergentes. São linhas que, com o andar dessa análise, podem desembocar na mesma organização criminosa", disse ele, que ponderou que a investigação da Polícia Civil necessariamente vai passar pela avaliação do Ministério Público quando concluída.

O governador Wilson Witzel (PSC) disse que não teve acesso ao processo, que está em segredo de justiça, mas defendeu que uma resposta seja apresentada à sociedade rapidamente.

"Me parece que as duas têm que andar juntas. Se não for possível, aquela que estiver mais adiantada que dê a resposta pra sociedade. Se você tem uma investigação mais adiantada na policia, que a policia já apresente logo o resultado", disse ele, que o que se espera do direito penal é uma resposta rápida à sociedade: "É muito melhor apresentar muitas vezes um resultado parcial de uma investigação. O inquérito pode ser cindido e continuar a investigação em outros fatos".