Lula não se entrega à PF no prazo; advogados negociam

Negociações entre a defesa do ex-presidente e policiais indicam prisão entre este sábado e a segunda-feira

Escrito por Redação ,
São Paulo. Ao se recusar a seguir a ordem do juiz federal Sérgio Moro de se entregar até 17h da sexta-feira (6), o ex-presidente Lula transformou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, berço de sua carreira política, numa espécie de bunker de resistência contra a Operação Lava-Jato. 

Ao permanecer no local por mais de 24 horas, cercado de aliados, simpatizantes, advogados, familiares e políticos, Lula se empolgou com a mobilização e terminou o dia discutindo alternativas sobre como e quando deveria começar a cumprir sua pena de 12 anos e um mês de prisão. As negociações entre a banca de advogados do petista e os delegados da Polícia Federal caminhavam para que o mandado fosse cumprido entre este sábado (7) - após uma missa pelo aniversário de dona Marisa Letícia, que faria 68 anos, a ser rezada no próprio sindicato - e segunda-feira (9) pela manhã. Não é praxe que prisões ocorram no fim de semana, a não ser em casos de flagrante, mas o caso do ex-presidente tem sido tratado de forma excepcional.

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Lula quis transformar o ato da prisão num marco político, se valendo de um velho recurso que já havia utilizado nos anos 1970, quando presidia o sindicato: o de se refugiar na sede da entidade. Foram várias noites passadas na entidade, naquela época para evitar uma detenção pelo aparelho de repressão da ditadura militar. 

Vigília

Lula iniciou a sua vigília, na quinta-feira (5), disposto a radicalizar e não se entregar. Recebeu inúmeros aliados, posou para fotos e chegou a aparecer na janela para acenar ao público do lado de fora. Os seus cinco filhos também estavam presentes, assim como três dos irmãos. 

Por volta das 2h30 da madrugada da sexta-feira, com o prédio já bem vazio, Lula se recolheu em uma sala anexa da presidência e usou uma cama montada para ele no local por dormir por pouco mais de quatro horas.

Depois de um café da manhã com iogurte e pães servido pelos metalúrgicos, Lula retomou as conversas políticas. 

Um dos primeiros a voltar ao sindicato pela manhã foi o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, hoje principal nome para assumir a cabeça da chapa petista à Presidência da República, caso o ex-presidente seja impedido de concorrer. 

Nas primeiras horas da manhã, o líder petista seguia irredutível. Mas, a partir do almoço, os advogados começaram a alertá-lo sobre o risco de Moro decretar a sua prisão preventiva. 

Foi quando Lula começou a “baixar a temperatura”. Caso o magistrado seguisse por esse caminho, Lula não se beneficiaria de uma reinterpretação do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento das ações diretas de constitucionalidade sobre a prisão em 2ª instância. 

“Ele entendeu que numa posição de confronto, poderíamos perder os aliados que temos no Supremo”, conta um petista. 

Nervosismo

Conforme o relógio se aproximava das 17h, o nervosismo crescia. Os petistas mantiveram até os últimos minutos a expectativa sobre o que fariam quando o relógio chegasse ao horário estabelecido por Moro para a sua apresentação espontânea. Em uma sala, parlamentares do PT e de partidos aliados entravam e saiam num ritmo frenético. Qualquer movimento atípico era motivo de tensão entre militantes. 

Novas derrotas na Justiça desanimaram o entorno do ex-presidente, que passou a reforçar as negociações sobre o desfecho da decretação de sua prisão. 

Lula passou a admitir ser preso, mas ainda não concorda com a ideia de uma apresentação discreta à polícia. Ao longo do dia, além de petistas, políticos de partidos do campo da esquerda, como Manuela D'Avila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), ambos pré-candidatos à Presidência, estiveram no sindicato.

O apoio a Lula também reuniu antigos aliados que, até então, estavam distantes do petista, como Ivan Valente e Luiza Erundina, que abandonaram o PT por discordarem dos rumos do partido. O pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, por sua vez, rebateu críticas de não ter participado de um ato político em apoio ao ex-presidente.

“As instituições brasileiras já estão em frangalhos. Há um quadro generalizado de anarquia no País, que se caracteriza por votações exóticas do Judiciário, por opiniões absolutamente ilegais e arbitrárias de comandantes das Forças Armadas e a desobediência de parte dos políticos da lei e das regras”, apontou. 

Já o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou na sexta-feira que a ordem de prisão foi “absurda”, porque havia espaço para novo recurso ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, e que faltou “pedigree” a ministros indicados por Lula para integrar o próprio Supremo.

Recurso no STF

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, decidiu ainda na sexta (6) que o ministro Edson Fachin será o relator o novo recurso no qual a defesa de Lula tenta suspender a decisão de Moro.