Itamaraty vai pedir documentos da CIA sobre execuções

Em resposta à carta da família de Vladimir Herzog, governo federal promete solicitar aos EUA íntegra de relatório

Escrito por Redação ,

Brasília. O Ministério das Relações Exteriores vai pedir ao governo dos EUA a liberação dos documentos produzidos pela Agência Central de Inteligência (CIA, sigla em inglês) sobre o regime militar (1964-1985) no Brasil. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, instruiu a embaixada brasileira em Washington, nos EUA, a solicitar a liberação completa dos registros sobre esse tema.

A medida foi tomada em resposta à solicitação do Instituto Vladimir Herzog, que enviou uma carta na sexta ao Itamaraty pedindo que o governo federal a liberação dos documentos que registram a participação de agentes do Estado brasileiro em ações de tortura ou assassinato de opositores do regime.

A carta é assinada por Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, morto durante a ditadura militar. Na época, o Exército divulgou a versão de que ele teria cometido suicídio na prisão.

Documentos que vieram a público, na semana passada, mostram novos fatos sobre a participação do Estado na execução e tortura de opositores do regime. De acordo com registros da CIA, os generais Ernesto Geisel, presidente do Brasil à época, e João Figueiredo, então diretor do Serviço Nacional de Informações (SNI), e que assumiu a Presidência depois de Geisel, sabiam e concordaram com execução sumária de "inimigos" do regime militar no Brasil.

Também participaram da reunião em que Geisel foi informado da política de execução, os generais Milton Tavares de Souza, então comandante do Centro de Inteligência do Exército (CIE) e seu sucessor, Confúcio Avelino. Datado de 11 de abril de 1974, o documento, assinado pelo então diretor da CIA, Willian Colby, e endereçado ao então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, diz que Geisel foi informado, logo após assumir a Presidência da morte de 104 pessoas opositoras do regime militar no ano anterior.

O informe relata ainda que após ser informado, Geisel manteve a autorização para execuções sumárias e teria feito a ressalva de que os assassinatos só ocorressem em "casos excepcionais" e envolvendo "subversivos perigosos". "Uma nação precisa conhecer a sua história oficialmente para ter políticas públicas que previnam que os erros do passado se repitam", diz a carta assinada pelo filho de Herzog e dirigida ao ministro.