Folia com crítica social

Com referências aos problemas que afligem o País como a insegurança e a intolerância, o Carnaval fluminense gerou repercussão internacional ao criticar os rumos da política nacional

Escrito por Fernando Maia - Repórter ,

As escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro encerraram na manhã de ontem os desfiles do Carnaval deste ano com fortes críticas à corrupção, à violência e à onda conservadora que atinge o país.

"Oh pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não aguentam mais! Você que não soube cuidar", repetia o samba da Beija-Flor, que concluiu os dois dias de espetaculares desfiles no Sambódromo.

Em sua noite de estreia, as escolas que desfilaram já haviam trazido boas doses de crítica social. Assim, o presidente Michel Temer foi encarnado por um vampiro corrupto na Paraíso do Tuiuti, enquanto o prefeito Marcelo Crivella foi representado por um boneco de Judas na Mangueira.

Crivella foi um dos alvos principais, criticado por cortar pela metade a verba destinada às escolas de samba.

O grito "fora Crivella!" foi ouvido com frequência nos últimos dois dias dentro e fora da Sapucaí, porque o Carnaval, além de atrair 1,5 milhão de turistas e gerar mais de 1 bilhão de dólares para a cidade, representa uma trégua às tragédias diárias do Rio, mergulhado em uma grave crise econômica e de violência. "A gente vem aqui e esquece de todos os problemas. Só pensamos em desfrutar o Carnaval", declarou Paulo da Silva, um dos músicos da Unidos da Tijuca.

Contudo, a insegurança da cidade não ficou de fora da festa. O sambista Moacyr Luz denunciou que foi assaltado na véspera quando chegava ao Sambódromo e teve até sua fantasia roubada.

Leia ainda:

> Fortaleza: terra da folia 
> Memória, samba e afeto na cidade 
> Balança o chão da praça 
> Maracatu reinventado 
> Fantasia para manter a luta 
> Aracati: Alegria resgatada 
> Muita cor e diversão em várias cidades do Ceará

Atual campeã do carnaval carioca (em título dividido com a Mocidade Independente) e maior vencedora dos desfiles de escolas de samba, com 22 títulos, a Portela desfilou na segunda-feira (12) e contou a história de um grupo de judeus que, expulso de Portugal, primeiro viajou para Recife, mas acabou expulso novamente pelos portugueses em 1654 e, então, fugiu para a América do Norte e ajudou a fundar a cidade de Nova York, nos Estados Unidos.

A escola aproveitou para denunciar o drama dos imigrantes da atualidade.

Paraíso de Tuiuti satiriza até o presidente Temer

A escola de samba surpreendeu aos espectadores na Sapucaí com um desfile crítico tendo como enredo "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", que lembrou os 130 anos do fim da escravidão no Brasil, sem que suas sequelas tenham sido, contudo, eliminadas. Várias alas foram dedicadas a lembrar este fato, como o alto nível de desigualdade social e também criticaram a recente Reforma Trabalhista

a
Em um dos carros alegóricos da agremiação, uma figura de 'Drácula' ganhou os traços do chefe do Executivo (Foto: AFP)