'Existe uma usina de intrigas', diz Ciro sobre pré-eleições

Diante de empresários em SP, ex-ministro falou ainda sobre suas ideias para promover um ciclo de consumo no País

Escrito por Redação ,
Legenda: O ex-governador do Ceará rebateu insinuações sobre relação desgastada com o PT, mas criticou modelo econômico adotado pelas gestões da sigla
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São Paulo. O pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) afirmou ontem que existe uma usina de intrigas sobre a relação dele com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O presidenciável afirmou que as razões disso são impedir a união dos partidos de esquerda no segundo turno e uma estratégia do PT para garantir o capital político de Lula numa transferência de votos ao indicado por ele para a disputa.

"O Lula para mim não é um mito ou uma figura distante, mas um amigo de muitos anos. Muitos anos. Desde 1988, quando era um jovem prefeito de Fortaleza e ele uma mirabolância, uma promessa", afirmou Ciro, ao ser questionado por jornalistas sobre falas recentes de Lula.

Ex-ministro do governo petista, Ciro disse ainda que a única verdade no que é dito é que ajuda Lula há 16 anos. Sobre o PT, ele afirma que não é crítico ao partido, mas ao modelo econômico adotado pelo PT ter facilitado a "chegada de quadrilheiros ao poder, a ponto de colocar Michel Temer como vice".

Ciro declarou mais uma vez que Lula não estará na disputa à Presidência, o que diz considerar injusto. O pré-candidato também negou que pediu ao ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad que fosse seu vice.

O presidenciável negou ainda que exista diálogos nesse sentido com Marina Silva, por quem afirma ter grande estima. "Como posso querer a Marina de vice se ela é maior do que eu?".

Segundo o pré-candidato, ainda não é momento para definições de alianças e que todo mundo está conversando com todo mundo. Ele afirmou que tem falado amiúde com todo mundo do PSB, partido ao qual foi filiado no passado e no qual diz ter amizades profundas.

Ciro refutou os estereótipos de que pertença à direita, os "coxinhas", ou à esquerda, "mortadelas". "Começou a luta. E a luta no Brasil e no mundo não é racional, nem honesta. Então a ideia é satanizar porque é recente a frustração de todos nós com o que aconteceu com o governo Dilma (Rousseff). Então agora é assim: qualquer um que não seja coxinha, tem que ser mortadela. E eu vou resistir, não sou coxinha, nem mortadela", afirmou.

A declaração foi uma reação a uma fala de seu coordenador de campanha, Nelson Marconi, sobre ser desenvolvimentista "sem medo de ser feliz". O desenvolvimentismo é uma corrente econômica que prevê uma participação ativa do Estado na promoção do desenvolvimento.

Indagado sobre a possibilidade de Jair Bolsonaro (PSL) vencer a eleição, o presidenciável afirmou que há resignação em São Paulo diante da candidatura do deputado.

"Vejo em São Paulo uma certa resignação de que o Alckmin não dando no couro, ele vai virando um mal menor para esse mundo criptoconservador. Não consigo ver isso. Há muita inconsistência", disse.

"Quadrilha de ladrões"

O presidenciável falou com a imprensa após palestrar para um público de empresários na zona sul de São Paulo. No discurso, Ciro defendeu o livre comércio, a reforma fiscal, a mudança na política cambial do país, a tributação sobre herança e lucros e dividendos, além de uma reforma tributária que não seja remendo para fazer o País voltar a crescer, o que segundo ele não acontece desde os anos 80.

Questionado se seu projeto econômico para o País se assemelhava ao da ex-presidente Dilma Rousseff, Ciro disse que era como comparar água e vinho e criticou a política de desoneração praticada no governo da petista.

Apesar de discordar de Dilma Rousseff, o pré-candidato também saiu em defesa da ex-presidente, dizendo que ela sofreu impeachment sem praticar crime, dando lugar a uma "quadrilha de ladrões".

Pacto federativo

Ciro reafirmou que a saúde fiscal do Brasil será uma "obsessão" da sua eventual gestão e que pretende, se eleito, propor reformas na área nos seis primeiros meses de governo, período em que o presidente tem maior capital político.

No evento promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), o ex-ministro dos governos Itamar Franco e Lula afirmou que melhorar a situação fiscal brasileira é condição necessária para superar o que chamou uma sucessão de ciclos insustentáveis de consumo que vêm se repetindo desde os anos 1980.

"O Brasil não pode continuar com esses ciclos de consumo como fez. Precisamos impulsionar o lado da oferta, ou o Brasil vai continuar vivendo dessa forma que vemos", criticou, defendendo ainda medidas para tornar o câmbio e os juros compatíveis com a competitividade das empresas brasileiras no exterior.

Questionado sobre como pretende aprovar reformas que considerou necessárias, como a da Previdência e a tributária, o pedetista afirmou que, se eleito, pretende iniciar seu governo com essas propostas e também pedir a ajuda dos governadores para tal, já que eles também têm interesse em resolver a insolvência de suas contas públicas.

"Vou propor um redesenho do pacto federativo do País em troca do redesenho fiscal do País. Fazer um swap da dívida dos Estados em troca do apoio à reforma tributária e previdenciária juntas. Vamos sair dessa juntos", defendeu.