CNV aponta 89 mortos ou desaparecidos, sendo 1 do CE

Escrito por Redação ,

Rio de Janeiro/Brasília. Oitenta e nove pessoas morreram ou desapareceram no Brasil por motivos políticos, a partir de 1º de abril de 1974 e até o fim da ditadura, segundo levantamento do portal G1 com base nos registros da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Foi a partir desta data que o general Ernesto Geisel, então presidente do Brasil, autorizou execução de opositores, segundo documento da CIA tornado público recentemente pelo governo americano.

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Além dos 89 casos confirmados, há outras 11 pessoas que podem ter morrido ou desaparecido a partir de 1º de abril de 1974 – a data não foi esclarecida pela CNV. Além disso, pode haver mortes e desaparecimentos durante esse período da ditadura que não foram registrados.

Embora tenha feito uma extensa pesquisa histórica, não foi essa comissão que revelou o reconhecimento explícito de que decisões sobre morte de opositores foram tomadas pelo Planalto.

A confirmação está um memorando da CIA (a agência de inteligência dos EUA), descoberto pelo pesquisador Matias Spektor, da Fundação Getulio Vargas (FGV). O documento foi elaborado pelo então diretor da CIA, William Egan Colby, e endereçado ao secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger. 

Política de Estado

O advogado criminalista e ex-presidente da Comissão Nacional da Verdade (CNV), José Carlos Dias, comentou a revelação do documento confidencial da CIA. “Esse documento referenda exatamente aquilo que afirmamos em nosso relatório da Comissão Nacional da Verdade (órgão que funcionou entre 2012 e 2014 para investigar as graves violações aos direitos humanos ocorridos na ditadura), de que a tortura era uma política de Estado, não era ato isolado, praticado por um ou outro militar mais alucinado”, afirma Dias, que advogou em defesa de presos políticos durante a ditadura militar.

A revelação, segundo Dias, desfaz a ideia em torno do perfil de Geisel, que comandou um lento processo de abertura política do regime militar. “Quando assumiu, veio com toda a esperança de uma abertura, mas ele apenas queria participar da decisão de matar esse ou aquele, e também o general Figueiredo”, afirma.

A Comissão Nacional da Verdade encerrou seus trabalhos em dezembro de 2014, com relatório com mais de 100 mil documentos sobre violações de direitos humanos cometidos durante o regime militar. 

Pedido

Já o presidente do conselho do Instituto Vladimir Herzog, Ivo Herzog, filho do jornalista assassinado na ditadura militar, enviou carta na sexta ao ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, na qual pede que o governo federal solicite aos EUA a “liberação completa” dos registros da CIA sobre operações de tortura e morte de brasileiros.

Vladimir Herzog foi torturado e morto em uma cela do DOI-Codi em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. 

O Ministério das Relações Exteriores confirmou que recebeu a carta da família e que “examina o encaminhamento da solicitação nela contida”.

‘Prestígio’

Já o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que a divulgação de documentos da CIA não afeta o "prestígio" das Forças Armadas. Ex-ministro da Defesa, Jungmann disse que o governo federal ainda não teve acesso ao documento de forma oficial, mas afirmou que alguma medida deve se tomada.

O presidente do Clube Militar, Gilberto Pimentel, por sua vez, classificou a publicação como “inteiramente fantasiosa”.

Depois de destacar que o documento “não vale um tostão furado”, o general Pimentel afirmou que os ex-presidentes Ernesto Geisel e João Figueiredo foram “homens de bem”.