'Cabeças-pretas' tucanos 'vencem'

Escrito por Redação ,
Legenda: Deputada Shéridan (PSDB-RR), que não votou na 1ª denúncia, deu voto contra Temer, fortalecendo a ala crítica ao governo, liderada por Tasso
Foto: Foto: Agência Câmara

Brasília. Independente da vitória de Michel Temer com a derrubada da segunda denúncia contra ele na Câmara, o racha no PSDB em relação à aliança com o governo deve continuar pelo menos até dezembro. A votação de ontem aprofundou a divisão entre os grupos de tucanos governistas, alinhados com Aécio Neves (MG), e os independentes, que seguem a tendência pró-rompimento do presidente interino Tasso Jereissati (CE) e de Ricardo Tripoli.

Os peessedebistas acreditam, contudo, que a convenção nacional, marcada para o início daquele mês, irá definir a correlação de forças na legenda, através da eleição da nova Executiva Nacional e do sucessor do presidente licenciado (leia mais na página 13). Embora novamente tenham saído divididos da votação, como ocorreu na primeira denúncia, desta vez uma leve vantagem ficou do lado da ala crítica ao governo.

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Os tucanos "cabeças pretas", críticos à aliança com Temer, ganharam o apoio de três deputados que se ausentaram da primeira votação - Shéridan (RR), Pedro Vilela (AL) e Eduardo Barbosa (MG) - levando a um placar interno de 23 a 20.

Além disso, a ala governista do partido teve duas defecções: Ieda Crusius (RS) e Marco Tebaldi (SC), que haviam votado com o presidente da República, faltaram à sessão de ontem. Com um número maior de votos tucanos pela continuidade das investigações, Temer terá que administrar a pressão de líderes do Centrão pela retirada de ministros do PSDB: Aloysio Nunes (Itamaraty), Luislinda Valois (Direitos Humanos) e Bruno Araújo (Cidades), a pasta mais cobiçada entre os partidos da base.

No PSDB paulista, apesar de defesa pública do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a bancada votou em peso contra o relatório de Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Apenas a deputada Bruna Furlan (PSDB-SP) votou pela rejeição da denúncia.

"É bem provável que haja pressão do Centrão, mas acho que o Temer não vai trocar os ministros, porque corre o risco de perder mais do que outros partidos podem dar", avaliou o secretário geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), um dos que votou pela continuidade da denúncia contra Temer.

Racha

Durante a votação da denúncia, o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP) liberou a bancada para votar como quisesse.

Ele reconheceu as divergências na sigla, e fez questão de demarcar que o parecer do relator não tinha o carimbo do PSDB. Em seu discurso, Tripoli adiantou que votaria pela admissibilidade da denúncia. O líder tucano afirmou que no pós-denúncia, o PSDB continuará votando em algumas matérias com o governo.

"Nós nunca deixamos de votar com os interesses do país. Nas reformas demos mais votos que o PMDB, o partido do presidente. Mas o que não for questão programática e envolver questionamentos éticos, aí vai ter divergência", afirmou Tripoli.