Volume fraco de crédito

A quantidade de pessoas que buscou crédito cresceu 12,5% no primeiro trimestre de 2018, conforme estudo apresentado pela Serasa Experian, todavia, o estoque disponível permanece aquém do que se projetava para o início deste ano.

A inadimplência elevada de famílias e empresas, o alto número de desempregados e o cenário de incertezas motivadas pela corrida eleitoral já iniciada são alguns dos elementos apontados para esclarecer a cautela adotada tanto por consumidores quanto por instituições financeiras no momento de recorrer ao crédito ou concedê-lo.

Embora os bancos tenham voltado, no último trimestre do ano passado, a prever aumento na oferta de financiamento, segundo levantamento realizado pelo Banco Central, ainda tem sido feita uma seleção rigorosa para conceder ao consumidor o benefício de tal mecanismo, além de as linhas disponíveis seguirem limitadas. As empresas têm enfrentado os maiores obstáculos. De acordo com cálculo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o estoque de crédito para as pessoas jurídicas tem retraído cerca de 10% desde julho passado.

Tal resistência trava a recuperação das empresas, pois a maioria passou a buscar prioritariamente o mercado de capitais como nova fonte para angariar recursos, desde que foram reduzidos os desembolsos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), e os juros cobrados pelo banco de fomento se tornaram mais onerosos.

Para a pessoa física, os juros são o maior entrave. Apesar de a taxa Selic estar em 6,5%, o menor patamar histórico, a população pouco sente os efeitos disso na ponta, preferindo fugir do peso do crédito no bolso. O desemprego é outro obstáculo. Mesmo com a recuperação dos postos de trabalho verificada em indicadores referentes ao início deste ano, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o índice de desocupação segue exagerado, com aproximadamente 12,7 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.

A estagnação na concessão do crédito traz preocupação por representar gargalo para o crescimento da economia. O varejo é um dos segmentos que mais sentem o efeito desse contexto. O último balanço sobre o desempenho do setor revelou que fevereiro de 2018 obteve o pior resultado em comparação com os últimos três anos. O recuo foi de 0,2% ante janeiro.

Antes do agravamento da crise, entre 2004 e 2014, o volume de crédito geral saltou de 25% para 50% do Produto Interno Bruto (PIB) e funcionou como motor para a manutenção de bom ambiente econômico no País. Em 2013, surgiram os primeiros sinais de queda do ritmo, intensificando-se em seguida. De dezembro de 2016 a fevereiro de 2018, a proporção da massa de crédito em relação ao PIB caiu de 49,6% para 46,4%.

Analistas ainda acreditam que o ano se encerre com alta nas concessões de crédito totais, mas projetam recuperação apenas no segundo semestre.

Na segunda metade do ano, será mais fácil vislumbrar a conjuntura econômica de 2019. Dessa forma, deverá ganhar robustez a confiança das instituições financeiras em diversificar as linhas de financiamento disponíveis, e os consumidores sentirão maior segurança em buscar tais fontes de recursos.

Para tanto, contudo, é fundamental impedir retrocessos nos ajustes planejados para fazer a economia readquirir vigor e, assim, evitar que a pífia situação das contas públicas continue a anular o apetite pelo crédito.