Visitante mortal

Eis um causo muito conhecido e comentado na cidade do Crato, narrado pelo engenheiro e escritor Carlos Eduardo Esmeraldo, em "Histórias que Vi, Ouvi e Contei". Os irmãos Pedro e Unias Gonçalves Norões, Raimundo Esmeraldo, Raimundo Seabra (cratenses) e Tomé Cabral dos Santos (milagrense) constituíram, desde a adolescência, quinteto representativo de invulgar amizade. Onde se encontrava um, os outros estavam. As maioridades e formações profissionais levaram-nos a destinos diversos. Pedro e Unias tornaram-se funcionários do Banco do Brasil e continuaram viver no Crato. Raimundo Siebra cursou Medicina no Rio de Janeiro e ali se radicou. Raimundo Esmeraldo fez-se odontólogo e passou a residir em Belo Horizonte. Tomé mudou-se para Fortaleza, ingressou no BB, tornou-se literato e autor do Novo Dicionário de Termos e Expressões Populares. Aposentado, Tomé decidiu rever os velhos amigos, encetando viagens aos locais de seus domicílios. No Rio, durante encontro com Raimundo Esmeraldo em sua casa, este sofreu fulminante enfarte e faleceu.

Em Belo Horizonte, meses depois, no lar de Raimundo Siebra, ocorreu à morte do anfitrião. Na terra do Padre Cícero, quando chegou à morada de Pedro Norões, um derrame cerebral matou o visitado. Assim, restavam vivos somente ele e Unias e, dada a fama de pé frio de Tomé, Unias não desejava vê-lo, nem em retrato. Desenfermado, seu filho José Esmeraldo, o Zé Lorota, brincando, disse ao pai que o antigo companheiro chegara à porta, objetivando visita. Pronto desejo: "Pelo amor de Deus, mande esse homem pra longe daqui!".

Geraldo Duarte
Advogado e administrador