Válvulas queimadas

Aracaju. Década de cinquenta. Tempos dos radiorreceptores valvulados. Francisco de Souza Andrade, conhecido como coronel Andrade, além de comandante de Cavalaria da 85ª da Brigada, pela Secretaria da Guarda Nacional do Estado da Bahia, tornou-se um dos afortunados homens de negócios, também comerciante, proprietário de inúmeros imóveis rurais e urbanos.

Certa data recebeu a visita de distinto cavalheiro, apresentando-se representante de indústria sediada no Recife e propondo inédita transação. Sua empresa, utilizando tecnologia estadunidense, recuperava válvulas queimadas, transformando-as em novas. Assim, propunha-lhe comprar, a cinquenta centavos, tantos componentes inutilizados, quanto possuísse. Voltaria, em períodos, recolheria e pagaria o existente. Semanas depois, cidadão denominando-se Brasil, com carregamento, dizendo-se adquirente de carcaças de rádios em oficinas de conserto, afirmava retirar as partes metálicas para comercialização e jogar no quintal as válvulas. Soube, de vizinho, do interesse de obtenção pelo coronel e estava oferecendo a vinte centavos, cada. De olho no lucro maior que cem por cento, adquiriu a carga e recolheu-a no depósito. Passados dias, outra carrada chegou e foi mercadejada. Já o reciclador, nunca regressou.

Nas 460 páginas de histórias e fotografias de "Aracaju Romântica que Vi e Vivi: Anos 40 e 50", de Murillo Melins, 4ª Edição, o ledor é transportado a um mundo cativante. Aqui, gratidão ao estimado amigo Clenaldo Santos, antigo servidor da Chesf, historiador, radialista e o baiano mais sergipano que conheço, presenteador da obra.

Geraldo Duarte. Advogado e administrador