Sobre o SUS

Mostro o crachá, abro um sorriso, pergunto como ela se chama, e ela se chama Maria. Poderia ser Ana, Teresa ou nome menos comum tipo Gertrudes. Mas muitas, estereótipos à parte, se chamam Maria mesmo. Do mesmo modo os Joãos, Batistas, Carlos, das Neves são muitos.

Informo que faço uma pesquisa. Pesquisa do Governo. Ela sorri, não sei se entendeu mesmo. Pergunto seu problema, e nem precisava, já sei, é o câncer. Naquela fila de hospital trata-se do pão diário, ou da fileira dos micro-ônibus que vêm do interior, igualmente diária.

Pergunto o tipo: mama, colo de útero, gastrointestinal. Surpreendo-me pela calma, às vezes até pelo humor da resposta.

Ouço a história do problema – a história dela. Recebo informações – às vezes anedotas – sobre vilazinhas no semiárido ou periferias com problemas de transporte e duzentos outros mais. Revela o primeiro exame, a primeira palavra do médico. Conta a história da doença como quem narra cena curiosa que viu entre os ambulantes do Centro.
Pergunto e já conheço a resposta: “a senhora não tem pago nada, não é?”. Ela concorda e prossigo. “Seu tratamento não é de graça. Ele é pago por três governos, o Federal, o Estadual e o Municipal, que se juntam em um sistema chamado SUS, para pagar o tratamento da senhora”. Todas abrem o sorriso concordante, uma unanimidade tão grande que não sei se decorre da compreensão.

Ao fim peço sugestões. Recebo elogios a médicos e enfermeiros. Há muita gente curada, em processo de alta. Agradeço, levanto-me, pego minha prancheta e percorro a sala de espera com o olhar. Tímidos sorrisos a mim. Mesmo que não cresse, eu rezaria. Rezaria para que essas e todos nós pessoas lembremos que existe algo que colabora para mantê-las vivas, e que atende pela sigla de SUS. Longe de perfeito, muito além de necessário.
E que os anjos, quer existam ou não, digam amém.


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