Sobre Humberto de Campos

Autodidata, Humberto de Campos (1886 - 1934) tornou-se um dos mais importantes escritores de sua época. Órfão de pai aos seis anos, aprendeu tudo sozinho, lendo os jornais (para embrulho) na mercearia de seu emprego de caixeiro. Arrostou mil dificuldades e, por esforço próprio, aos 33 anos ingressou na Academia Brasileira de Letras (ABL). Tanto assim que prefaciou suas “Memórias”, proclamando: “Escrevo a história da minha vida não porque se trate de mim, mas porque ela constitui uma lição de coragem aos tímidos, de audácia aos pobres e de esperança aos desenganados”. Suas crônicas no jornal atingiram elevado ibope – algo semelhante ao que mais tarde conquistariam Heitor Cony e, nos pagos cearenses, o cronista Eduardo Campos.

Escritor bastante lido, mesmo quando já transcorriam 20 anos de seu óbito, mereceu a transcrição de trechos de seu “Diário secreto” na revista O Cruzeiro, cuja leitura levou-me a iniciar meu diário – que não é secreto – mas, “mutadis mutandis”, pautado no do escritor timbira, inclusive no cabeçalho: “quarta-feira, 1º de março”.
Foi poeta, crítico, contista, novelista e cronista – nesta área atingindo o ápice de sua vida literária. Suas crônicas eram tão avidamente procuradas que ocorreu um fenômeno: “a febre de ler Humberto”. Como escreveu seu filho do mesmo nome, o pai era um autor dono de estilo inconfundível, redigia corretamente, de forma simples e fluente, sabendo, como poucos, colocar uma vírgula no lugar certo.

Tinha apenas 48 anos quando adveio-lhe uma anormalidade na hipófise, glândula situada no meio do crânio. Ao operar-se, o anestesista indagou-lhe: “Com medo, Humberto?”. Sua resposta foi peremptória: “Claro, são cinco (médicos) contra um”. Fato é que, inexoravelmente, o escritor Humberto de Campos não resistiu à anestesia geral, entregando sua alma a Deus naquele fatídico 5 de dezembro de 1934.