Situação crítica

As chuvas de fevereiro, no Ceará, ficaram 30% acima da média histórica para o mês, inaugurando com alívio a quadra chuvosa de 2018. Foram registrados 154 milímetros, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recurso Hídricos (Funceme), enquanto a média daquele mês é de 118 milímetros. Embora os reservatórios, em geral, tenham recebido algum aporte, a situação se mantém crítica, sobretudo em regiões específicas e de maior aridez.

O açude Castanhão ganhou volume nas últimas semanas, mas ainda se encontra com apenas 3,75% de sua capacidade de armazenamento, segundo relatório da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). A condição dramática do Castanhão, um dos maiores reservatórios do País, mesmo após uma sequência razoável de chuvas no mês passado, evidencia a imensa crise hídrica que assola o Estado.

Não obstante o índice pluviométrico deste início de ano, a maioria dos açudes ainda padece com níveis muito baixos de água. Dos 155 monitorados pela Cogerh, 112 reservatórios estão com volume inferior a 30%. Informa a empresa que 17 açudes estão secos e outros 46, em volume morto. Na média, o volume em toda a bacia do Estado é de apenas 8,3%.

No Sertão Central, o panorama é alarmante. Há 22 açudes com carga hídrica inferior a 1% naquela região. Adutoras e poços profundos são as alternativas para evitar o completo colapso em alguns locais, mas tais paliativos não resolvem o problema por completo.

Ainda que se confirmem os prognósticos positivos da Funceme acerca do período chuvoso (fevereiro a maio), a teia de comportas hidrológicas do Ceará não deverá ficar em posição confortável, principalmente considerando que, no restante do ano, costumam ocorrer somente chuvas isoladas.

O retrato atual é uma herança dos longos e amargos anos com escassas chuvas, cujo efeito devastador ainda é sentido. Para que um reservatório como o Castanhão volte a apresentar percentual significativo, serão necessários anos consecutivos de chuvas intensas e regulares no território cearense.

Historicamente, o mês de março detém a maior média de precipitações no Ceará, em torno de 203 milímetros. É cedo para avaliar, mas até o momento, as chuvas de março têm sido irregulares, fato que impede reforço de água mais expressivo nas comportas. Contudo, a depender da atuação do fenômeno Zona de Convergência Intertropical, essencial para a formação de chuvas no Estado, o quadro do mês ainda pode ser revertido. O desempenho de março é crucial para o cômputo geral da quadra chuvosa.

Conforme a Funceme, para abril, a média histórica é de 188 milímetros e, em maio, 90 milímetros. A Fundação Meteorológica projetou que há 45% de chances de chuvas acima da média de março a maio, 35% de probabilidade de volume dentro da média e 20% abaixo do normal.

Notadamente, a torcida de todos os cearenses é para que o painel meteorológico traga muita água para abrandar a crise hídrica. Todavia, caso as projeções otimistas não se concretizem, as autoridades e a sociedade precisam se manter alerta. A gestão hídrica precisa buscar soluções cada vez mais diversificadas, a fim de gradativamente reduzir a dependência pluviométrica. Para tal, são necessárias medidas de pequeno, médio e grande portes. À sociedade, cabe a conscientização sobre o uso parcimonioso da água, bem que precisa ser valorizado permanentemente.