Salto tecnológico

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou um estudo analítico em que expõe preocupações acerca do atraso tecnológico de setores nacionais. Investigando dados de produtividade, inovação, exportação e importação e comparando os resultados com o que se observa nas 30 principais economias, a pesquisa depreendeu que 14 segmentos da indústria brasileira precisam se adaptar às tendências produtivas globais.

O termo 'indústria 4.0', bastante citado no relatório da CNI, não é tão novo. Os países que produzem tecnologia de ponta já estão familiarizados com o movimento de câmbio dos sistemas convencionais de produção para uma era que agrega nova aparelhagem.

A denominada Internet das Coisas, impressão 3D, inteligência artificial, robótica avançada e o processamento de dados em larga escala (Big Data) constam no repertório das economias que assumem a dianteira da inovação.

O cotidiano de empresas e lares norte-americanos, japoneses e europeus, por exemplo, absorvera algumas dessas tecnologias. De forma incipiente, é bom frisar, pois a capacidade máxima de tais invenções é imensurável até mesmo para os mais férteis literatos de ficção científica.

Por ora, obviamente, nações socialmente atrasadas, caso do Brasil, ficam à margem dessa transformação, em virtude da histórica falta de investimento em pesquisa científica. A CNI considera que estão muito aquém setores como farmacêutico, químico, de vestuário, máquinas e aparelhos elétricos, dentre outros. Ressalta o estudo que cada área deve se moldar de forma peculiar às mudanças, considerando suas respectivas singularidades; contudo, defende a CNI, é crucial que todos os ramos busquem se atualizar, sob o risco de perda maciça de competitividade para os mercados que partiram na frente.

O documento catalogou as dimensões prioritárias a serem seguidas no País, dentre as quais: aplicação nas cadeias produtivas e desenvolvimento de fornecedores, desenvolvimento tecnológico, ampliação e melhoria da infraestrutura de banda larga, aspectos regulatórios, formação de recursos humanos, e articulação institucional.

Estatísticas mostram as dificuldades que as empresas nacionais enfrentam para implementar novas tecnologias.

De acordo com o IBGE, menos de 4% da indústria desenvolveu bens ou serviços considerados novos para o mercado entre os anos de 2012 e 2014. Ranking divulgado, neste ano, pela Bloomberg aponta que o Brasil, mesmo detentor de um dos dez maiores PIBs do Planeta, tem uma economia menos inovadora que países como Grécia, Malta, Marrocos, Tunísia, e Tailândia.

Caso o Brasil não se concilie com este processo revolucionário, é provável que as dimensões do abismo que o separa das economias desenvolvidas se tornem muito maiores. No entanto, o salto tecnológico não se dará do dia para a noite. Para os países mais pobres, a adaptação deve ser muito mais dolorosa. A perda de postos de trabalho em decorrência da ascensão tecnológica deverá atingir milhões de pessoas nos próximos anos, uma preocupação bastante discutida no último Fórum Econômico de Davos.

O impacto social da automação é ferrenho, sobretudo em nações que sequer superaram questões anacrônicas. Os avanços tecnológicos devem ser abraçados, mas é preciso que a realidade socioeconômica brasileira seja paulatinamente preparada para tal.