Riscos ao investimento

O Brasil, ao subir no ranking dos principais destinos de investimentos do mundo, em 2017, contrariou a tendência internacional e alcançou a quarta colocação entre os maiores receptores, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e Hong Kong. O cenário em 2018, em contrapartida, tem acumulado diversas incertezas, motivadas por razões externas e domésticas, que podem resultar na perda dos recursos oriundos do exterior e instigar movimento de retrocesso no desempenho do País nessa classificação.

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos conhecido pela sigla Fed, decidiu elevar sua taxa de juro e sinalizou mais duas altas até o fim do ano, fato que explica um dos pontos nevrálgicos a pressionar para baixo os investimentos estrangeiros no Brasil.

À medida que a autoridade monetária norte-americana mantém essa trajetória ascendente, estreitam-se as diferenças entre a taxa de juros dos EUA e a Selic nacional. E a situação diminui o apetite de potenciais investidores em assumirem os riscos de gastar esforços e recursos em nações como o Brasil, pois o território presidido por Donald Trump, dessa forma, ganha em competitividade por gozar de ambiente econômico muito mais seguro e com maiores chances de retorno dos capitais empenhados.

Os países emergentes são as principais vítimas dessa pressão da alta dos juros, pois precisam gastar suas reservas para conter a desvalorização de suas moedas. O Banco Central brasileiro tem feito intervenções no mercado para evitar a queda do real, mas os oscilações da moeda prosseguem, com risco de aumentar os juros internos e de propiciar um retorno à funesta recessão. Enquanto isso, a Bolsa de Valores está em baixa.

A guerra comercial no âmbito internacional, deflagrada pela aplicação pelos Estados Unidos de tarifas às importações da China e sobretaxas sobre o aço e alumínio do Canadá, México e União Europeia, também coloca em perigo os investimentos no Brasil, assim como em nações de realidade semelhante.

Em maio, segundo o Instituto de Finanças Internacionais, em face do crescimento das disputas e retaliações no comércio mundial, os países emergentes registraram saída líquida de capital estrangeiro de 12,3 bilhões de dólares.

A fuga de recursos é a maior desde novembro de 2016, quando a eleição de Donald Trump trouxe incógnitas quanto ao futuro.Na esfera doméstica, existe o temor de o processo eleitoral brasileiro e todas as especulações provocadas durante esse período estimularem os investidores a serem mais cautelosos na alocação de recursos, até que tenham a mínima noção do perfil do próximo presidente da República, e o conhecimento acerca de qual será sua agenda econômica. Tal movimento, segundo especialistas, também deve ocorrer na Colômbia e no México, onde a população também foi ou vai às urnas de votação neste ano.

Em decorrência de todas essas ponderações, estima-se que, mesmo se houver expansão no fluxo mundial de investimentos em 2018, a evolução deve ser pequena e, no máximo, ficar em torno de 10%, abaixo da média global observada nos últimos 10 anos.

Cresce a importância, portanto, de fazer o dever de casa, levar adiante reformas que retirem as contas públicas da vergonhosa situação de descalabro financeiro e devolvam o reequilíbrio fiscal e econômico. Atacando eficazmente as deficiências internas, a influência dos fatores externos será minimizada, e o Brasil conseguirá novamente caminhar nos trilhos do desenvolvimento.