Rios de felicidade

A natureza tem muito a nos ensinar. Dito isto, lhes apresento um exemplo de lição que encontramos nos rios do sertão nordestino brasileiro. É característica dos rios sertanejos serem intermitentes. Nos períodos em que a chuva não vem, deles só se vê o rastro marcando a terra seca por onde costumam passar. A lembrança de quem olha aquelas marcas é de alguém que passou ali, registrou sua passagem feliz e se foi prometendo voltar tão logo possa.

Os rios em sua seca angústia, quase sempre se recolhem porque entendem que tristeza é para se sentir sozinho; diferente de felicidade que não se contenta em ser de um só, pois carece de muitos pra irradiar. Um feliz sozinho é triste!

Quando eles somem deixam saudade por onde passaram; tão e qual o leito que fica saudoso das águas, conversando com as pedras imóveis que seguram poeira e; os galhos ressequidos que inventam de fazer sombra sem folhas tentando se ocuparem; sapos e peixes que preferem se enterrar o mais profundo na lama que resta, porque a luz do sol só aumenta a saudade. Ah! Mas quando vem o grande amor dos rios intermitentes, a chuva, não tem quem não perceba a felicidade que os enchem. Saem sorrindo pelos leitos, refrescado as pedras e lavando a poeira; verdejando os galhos em folhas várias; os sapos e peixes, logo procuram namoradas - sei disso porque de repente se percebe girinos de uns e alevinos de outros aos montes pelas águas marginais.

Somos nós também intermitentes, de vez em quando felizes - mais quando somos preenchidos por algo ou alguém que amamos, assim como a chuva faz com os rios.

Edmar de Oliveira
Escritor