Religiosidade

É impressionante a religiosidade do povo brasileiro. A fé, nas suas variadas manifestações. Sem esta fé e esta crença nos valores cristãos, de há muito o Brasil estaria em situação ainda mais difícil, talvez imerso numa guerra civil, na desesperança total em tudo, inclusive na própria vida.

Porém, apesar de todas as lágrimas derramadas, de todas as mães cujos filhos morreram de morte matada ou por bala perdida; apesar de todos os fatores contrários à alegria, à celebração da vida, provocados pela violência, pela miséria, pelo desemprego - o povo ainda é capaz de sorrir, de dançar, de vibrar, de praticar atos de ternura e de acolhimento, como nenhum outro povo é capaz na sua tristeza endêmica pelas muitas guerras de ontem e de hoje.

O farol a guiar o povo brasileiro em meio às trevas dos desmandos políticos e das carências múltiplas em saúde, em educação, em segurança - é a fé nascida das entranhas dos corações e não apenas das variedades de cultos praticados por esses brasis afora. É uma fé verdadeira, tanto mais autêntica quanto maior é a precisão e o abandono. Às vezes até dói ver a conformação de tantos corações feridos, de tantos olhos sem lágrimas para chorar - e aquela palavra mansa, sem ódio, diante das tribulações, como se fossem novos Jós em plena época da modernidade: " entrego a Deus, Deus é quem sabe". O nordestino, então, é o mais paciente diante das aflições da vida. Ninguém ouve de sua boca senão palavras de conformação e de piedade, quando a seca o castiga. Mas é bom as Catilinas de plantão não abusarem da paciência do povo, pois tudo tem limites.

 

Eduardo Fontes
Jornalista e Administrador