Rejeição e esperança

Já faz tempo que o governo Michel Temer luta para sobreviver às intempéries da política. Sua administração abandonou as ambiciosas metas iniciais de unificar o País e avalizar as reformas estruturais, para se dedicar, de modo quase exclusivo, à angustiante tarefa de se manter no Palácio do Planalto até o dia 31 de dezembro.

Em que pese o evidente estado de exaustão gerencial do Executivo, não deixam de ser impressionantes os recentes resultados da avaliação da população acerca do governante da República.

Quando se acreditava que sua impopularidade atingira o ápice, a última pesquisa do Datafolha mostrou que a situação pode, sim, piorar. O levantamento constatou que 82% dos brasileiros consideram a administração ruim ou péssima. Assim, ele consegue superar seu próprio recorde negativo como o presidente mais impopular desde a redemocratização.

Em abril, a rejeição era de 70%, mas após a greve dos caminhoneiros, saltou 12 pontos percentuais. No início de junho, somente 3% dos entrevistados afirmaram que a gestão é boa ou ótima, um mero resíduo em meio ao oceano de antipatia. No Nordeste, Temer é ainda mais malquisto: 87% avaliam seu trabalho como ruim ou péssimo.

Vale lembrar que, logo ao assumir a cadeira presidencial, o emedebista era rejeitado por "apenas" 31% dos brasileiros. Portanto, o aumento espantoso de sua impopularidade se deu à medida que escolhas, iniciativas e eventos relativos ao governo se desenrolaram.

Para começar, precisamente em um momento de enorme desconfiança popular sobre a classe política, Temer escolheu se rodear de figuras no mínimo polêmicas em seu núcleo de governo. Na economia, costurou mudanças indigestas, algumas das quais necessárias, principalmente no campo fiscal, mas a lenta recuperação e o desemprego impediram a melhora razoável de sua avaliação.

O xeque-mate veio com a delação da JBS, que enterrou de vez o seu diminuto capital político e travou o ímpeto reformista que até então se fazia presente.

Uma das consequências da massiva taxa de impopularidade do presidente é o possível contágio do sentimento de pessimismo na sociedade. A insatisfação não nasceu no atual governo; já se arrasta desde a administração anterior, de Dilma Rousseff. Tanto tempo de azedume fez crescer, em determinado contingente da população, a ojeriza em relação aos políticos em geral, o que pode trazer repercussões perigosas.

Por mais que a opinião pública esteja majoritariamente desgostosa, as soluções para as persistentes crises estão restritas aos desígnios do estado democrático de direito. No vácuo deixado pelo desacreditado governo, as proposições radicais de alguns grupos buscam apenas ampliar o caos. Neste período de instabilidade, devem ser exaltadas propostas realistas e lúcidas para o País.

Sob essa densa nuvem de mau humor, a eleição se aproxima. Conforme a pesquisa do Datafolha, 45% das pessoas acreditam que o resultado das votações gerais de outubro redundará em melhorias para a vida dos brasileiros. Outros 35% acreditam que nada mudará; e só 7% projetam piora. Os números permitem aferir que o pleito é um fator de esperança para boa parte dos eleitores, embora o percentual dos que se mostram otimistas não seja tão elevado.

É importante que exista essa esperança de melhoria, pois o voto consciente é o único caminho para garantir a desejada mudança de rumo para o País, obedecendo-se todos os ritos democráticos.