Que Brasil é este?

O dia 22 de Abril nos remete à data oficial de chegada das caravelas portuguesas em território brasileiro, um fenômeno a que costumávamos, inadvertidamente, chamar de Descobrimento do Brasil. Os esforços de um exercício histórico-geográfico crítico e includente, no que se refere à ocupação precedente desse território pelos índios, resultaram, pelo menos, num questionamento pontual acerca dessa ideia de "descobrimento". Avançamos.

Essa compreensão crítica, tanto na elaboração dos livros didáticos quanto no ensino escolar, já constitui um florescimento em direção à leitura e construção da nossa identidade. Mas os tempos recentes, ao que parece um óbvio ululante, são mais de retrocessos do que de avanços. O Brasil que estamos descobrindo, imerso numa crise em todas as esferas, é um País onde a escassez cada vez mais caminha lado a lado com a opulência.

A escassez de diálogo com o pensamento divergente caminha no mesmo compasso da abundância dos muros de intolerância, onde buscamos nos cercar somente daqueles que pensam da mesma forma, porque, claro, querem as mesmas coisas. Não há novidade nessa luta de classes.

Afinal, os conflitos que explicam essa dualidade cada vez mais profunda estão na raiz da História desse território, onde inclusive, a garantia dos direitos se desenha como uma gangorra de avanços e retrocessos. Mas a forma como se configura essa ordem social tem ganhado contornos de um sectarismo incomplacente e sem precedentes.

E enquanto esse capítulo da nossa história vai se construindo, alguns atores resolvem refugiar-se. Uns decidem "descobrir" Portugal. Ou melhor, reocupá-lo. Como nos lembrou o lúcido Eduardo Galeano, a história é mesmo um profeta com o olhar voltado pra trás.

Maria Anezilany Gomes. Geógrafa e professora da UECE