Promiscuidade

Desde as análises críticas do sociólogo Oliveira Viana, no limiar do século passado, aos dias atuais, há como que uma unanimidade entre os estudiosos das Ciências Políticas, de que no Brasil a República não conseguiu depurar os partidos, escoimando-os de vícios como o adesismo que há muito lhes adoenta. Joaquim Nabuco já dizia que o mais parecido com um conservador é um liberal no poder. Com a diferença de que, sob o Segundo Reinado, uma Constituição (1824-1889) duradoura deu segurança ao sistema representativo em processo de formação. Sob a República, o que se viu a partir de seu advento foi a prostituição constitucional pelo autoritarismo, ensejando a que o adesismo e o logro político alastrassem-se, com oligarquias digladiando-se e o oportunismo grassando com mutações partidárias ditadas pelos interesses locais e pessoais. A deprimente situação não tem mudado ao longo da nossa malfadada experiência republicana. O Ceará é exemplo fidedigno. Recentemente, o quadro cearense, laboratório dessas mutações em que trânsfugas partidários mudam de agremiações como de roupa, oferece aos estudiosos uma situação que desmoraliza os protagonistas e desencanta o cidadão-eleitor.

Num abrir e fechar d'olhos, lideranças expressivas do cenário político pulam de galho em galho, de acordo com o tamanho da banana que lhe é oferecida. Triste e constrangedor. Mas, somente para quem carrega consigo o sentimento da vergonha.

Barros Alves
Poeta e jornalista