Projeto para a orla

É frustrante e até paradoxal o fato de Fortaleza possuir uma exuberante faixa praiana sem que as pessoas possam usufruir inteiramente desses recursos naturais. A agradável temperatura das águas do oceano, pela costa marítima da Capital e também e por todo o litoral cearense, é um enorme atrativo de lazer e reunião para moradores e turistas. Mas a grande quantidade de pontos praianos considerados impróprios para o banho acaba por afastar a população do mar, um dos principais cartões-postais da cidade.

A poluição das águas é verificada constantemente por análises científicas. Os boletins de balneabilidade são divulgados de maneira regular pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). A quantidade de pontos recomendados para a saúde humana varia de tempos em tempos. Contudo, o mais comum no histórico recente dos relatórios é o número de pontos inadequados superar a quantidade de faixas consideradas aptas ao banho.

De acordo com os critérios da Semace, determinado local é próprio para o banho quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas ao longo de cinco semanas, houver, no máximo, 1.000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros da amostra. Caso contrário, a área aquática recebe o selo negativo e deve, pois, ser evitada.

Uma das ações do Projeto Orla de Fortaleza, o qual traça diretrizes no tangente à ocupação, desenvolvimento e ordenamento do região litorânea, almeja mudar o panorama e melhorar a balneabilidade. A meta é tornar a porção de 80% da orla da Capital adequada para banhistas, ampliando, nos próximos seis anos, a cobertura de saneamento básico das residências fixadas próximas à orla. O projeto, ainda a ser apresentado à Câmara Municipal, tem como financiador o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). O investimento previsto é de US$ 156 milhões.

Existe a nítida carência de iniciativas que venham a melhorar a convivência da população com a orla, resguardando o meio ambiente, por meio de ações sustentáveis e mudanças estruturais. No momento em que Fortaleza recebe vulto inédito de visitantes, com as operações do "hub" no Aeroporto Internacional Pinto Martins, tal otimização se faz ainda mais premente, em virtude do potencial ganho turístico e econômico. Mas a demanda é antiga. Os fortalezenses, tradicionais apreciadores do mar, se ressentem de não estabelecer vínculos mais estreitos com ele por conta da poluição. A frequência acaba ficando restrita a áreas específicas, conforme orientam os órgãos competentes, mas o desejo geral é diversificar os contatos para conhecer os encantos de cada praia.

A deficiência no saneamento básico, um gargalo típico do subdesenvolvimento, precisa de medidas efetivas não só na orla mas por todos os bairros de Fortaleza, bem como no interior do Estado. No Ranking do Saneamento Básico 2018, elaborado pelo Instituto Trata Brasil, a capital cearense é apenas a 65ª colocada entre as 100 maiores cidades do País. Foram analisados indicadores como abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, índice de perdas hídricas e investimentos na área.

As más condições ambientais nos balneários são reflexos de problemas sociais, de infraestrutura e da ação humana desordenada, que ainda assolam grande parte da população de Fortaleza. Corrigi-los é crucial para ampliar o potencial turístico e multiplicar as opções de lazer da cidade, assim como melhorar a qualidade de vida dos habitantes.