Prévia desalentadora

Na esteira da greve dos caminhoneiros e do maior pessimismo do empresariado, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,99% no segundo trimestre ante os três meses anteriores, no pior resultado desde o início de 2016. O declínio teve repercussão imediata e levou analistas e instituições financeiras a revisarem para baixo suas projeções de crescimento para o PIB deste ano. Com isso, aumenta a desconfiança no tocante à performance da economia nacional em 2018.

Apesar de não ser o indicador oficial do desempenho econômico, o IBC-Br configura parâmetro relevante, uma vez que é sempre divulgado com antecedência em relação ao PIB, tornando-se a prévia mais conceituada entre os diversos índices disponíveis. Suas informações são, inclusive, utilizadas pelo Banco Central na tomada de decisões peremptórias para o curso dos eventos financeiros, como a definição da taxa Selic.

Contudo, como as metodologias empregadas para o cálculo do IBC e do PIB são diferentes, é comum haver divergências entre as conclusões dos dois. O indicador do Banco Central é ajustado sazonalmente e pondera estimativas da agropecuária, indústria, serviços e arrecadação de impostos; enquanto a estatística oficial do IBGE é o somatório de todos os bens e serviços produzidos.

O PIB do segundo trimestre será divulgado em 31 de agosto. De todo modo, o IBC é capaz de antever a tendência de trajetória da economia, por mais que o produto interno não venha a se alinhar fielmente a esse indicador alternativo.

Aspectos técnicos e metodológicos à parte, deve-se admitir, agora com maior firmeza, que o segundo trimestre foi um passo para trás no penoso processo de recuperação econômica.

A piora era prevista, pois levantamentos setoriais já traziam estatísticas desalentadoras, como a produção industrial, que caiu mais de 10% em maio.

O notório declive de maio, puxado pelo movimento dos motoristas de caminhões, deverá impactar o fechamento do ano inteiro. Mostra-se sinistro observar que uma categoria isoladamente consiga causar escoriações graves a uma das dez maiores economias do mundo e, no fim do processo, ainda obtenha concessões generosas por parte do governo federal.

A conclusão de tal episódio pode até servir de estímulo para que outros grupos ajam de forma semelhante no futuro, o que seria tóxico para o País.

Após a divulgação da preliminar do BC, algumas previsões de bancos e consultorias sobre o PIB deste ano recuaram para 1,1% ou perto disso. No Boletim Focus, a estimativa é de crescimento de 1,4%. Em relação ao segundo trimestre, não há unanimidade. Parte do mercado acredita que a economia encolherá e o outra projeta leve alta.

Cabe ponderar que nem tudo que consta no IBC-Br de abril a junho tem cunho negativo. Após despencar 3,28% em maio, a atividade econômica saltou 3,29% em junho, indicando retomada. O natural é que, ao longo do segundo semestre, o ritmo produtivo se mantenha em elevação, salvo eventuais adversidades.

Mas, o provável é que a performance da segunda metade do ano não seja suficiente para produzir um resultado final satisfatório, lembrando que perspectivas anteriores chegaram a apontar para a expansão de 3% em 2018, percentual que posteriormente se tornou inexequível.

Pelo menos até a eleição em outubro, o clima econômico deverá ser de hesitação e avanço tímido. O retorno do entusiasmo vai depender da posição e do programa do próximo governo.