Pressão sobre os juros

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a Selic em 6,5% ao ano pela quarta oportunidade consecutiva e novamente a deixou no menor patamar registrado desde 1999, quando teve início o regime de metas para a inflação. Dessa vez, porém, ao contrário de comunicados anteriores, sinalizou que tal cenário está próximo de chegar ao fim.

A degradação do mercado externo acentuada pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, a alta do dólar, a crise enfrentada por nações que ocupam papéis relevantes no contexto internacional e as incertezas inerentes à disputa eleitoral são todos elementos que pressionam a inflação e elevam os riscos de a taxa básica de juros voltar a subir. O Copom ainda alerta que a recuperação da economia está num ritmo mais lento do que era esperado. Isso incide sobre o nível de ociosidade e puxa o encarecimento geral dos preços.

A interrupção no ciclo apresentado pela Selic durante o último ano traz preocupação principalmente porque a avaliação dos investidores é que, na prática, a conservação da taxa na faixa mínima histórica jamais chegou a mudar o estágio dos juros cobrados na ponta. As condições de financiamento das empresas seguem pressionadas, bem como os empréstimos pessoais, o cheque especial e o cartão de crédito. Esse retrato trava o poder de consumo e ameaça o nível de investimentos.

Com o retorno da Selic para altos patamares, anulam-se as chances de esse ambiente se alterar tão cedo. Conforme levantamento da Anefac, enquanto a taxa básica caiu de 14,25% para 6,5% em menos de dois anos, as principais linhas de crédito não registraram queda na mesma proporção em igual período. A taxa média de juros para empréstimos pessoais recuou de 72% para 58%. A do financiamento de veículos foi de 31,8% para 24,3% e a do cheque especial saiu de 296% para 283%.

Dados do Banco Central também apontam alta nos juros cobrados a pessoas jurídicas. Depois de cinco meses de retração, a taxa média anual do crédito a empresas passou de 20,2%, em junho, para 20,55% em julho.

Os juros futuros, que expressam o humor do mercado financeiro e são utilizados como referência para empréstimos, já são negociados por quase o dobro da Selic. Os contratos com vencimento em 2025, por exemplo, tinham taxas de 9% em abril. No início desta semana, fecharam acima dos 12%.

Os contratos de juros futuros sobem desde maio, com a deflagração da paralisação dos caminhoneiros. Após o encerramento dos protestos, as taxas recuaram. Em agosto, todavia, novamente, entraram numa trajetória de ascensão em razão do acirramento da disputa pela Presidência da República.

Ao conceder um empréstimo, os bancos tentam fazer previsões acerca de qual será a conjuntura econômica quando o tomador devolver o dinheiro concedido a ele. Com a corrida pelo Palácio do Planalto em andamento, tais projeções levam em consideração que o futuro chefe do Poder Executivo pode não colocar em prática as reformas necessárias para manter a inflação no escalão baixo.

Se ajustes na economia, no sistema previdenciário e na máquina administrativa não forem levados adiante, a explosão dos preços se tornará uma hipótese provável. Consequentemente, haverá pouca margem para que o Brasil deixe de figurar entre os campeões dos juros altos nos diversos rankings globais elaborados pelas instituições especializadas.