Preservar e conscientizar

Neste 22 de março, comemora-se o Dia Mundial da Água, data criada em 1992, pela Organização das Nações Unidas (ONU), para incentivar o debate acerca da valorização e preservação desse bem natural essencial. A cada ano, discutir soluções para garantir o abastecimento de água se torna mais vital, na medida em que as velozes transformações climáticas obrigam a sociedade a se adaptar a condições extremas, incluindo a seca.

Para os cearenses, a estiagem está arraigada. A secular intempérie dá tréguas esporádicas, mas sempre faz retornos indesejados. Atravessa gerações e estorva a vida de milhões de famílias, sobretudo as mais pobres, em localidades sertanejas. Nos últimos seis anos, tem sido um problema de grandes proporções para a população e um desafio hercúleo aos gestores. Para a população deste Estado, portanto, é de máxima relevância que o tema seja vastamente discutido pelas lideranças políticas, científicas e acadêmicas, a fim de que o Ceará encontre alternativas viáveis que garantam a sustentabilidade da água.

O problema ocorre para muito além do Ceará e do Nordeste brasileiro. Trata-se de uma questão global, sentida por nações completamente distintas. De acordo com levantamento da Agência Nacional de Águas (ANA), publicado no fim do ano passado, somente no Brasil, 48 milhões de pessoas foram afetadas por estiagens entre 2013 e 2016.

Existem exemplos ao redor do mundo de lugares que estão enfrentando as secas mais severas de suas histórias. A Cidade do Cabo, na África do Sul, é um caso notório. Forte polo turístico, a cidade enfrentou recentemente uma das maiores estiagens de sua história, o que forçou uma série de investimentos em usinas de dessalinização e outras fontes alternativas de abastecimento.

Israel é outro caso emblemático. Depois de muito sofrer com a falta d'água, o governo israelense desenvolveu tecnologias de dessalinização e formas de reúso da água, em especial a partir de 2004. Hoje, 80% da água utilizada pelos seus habitantes provêm do mar, consolidando Israel como líder mundial no assunto.

O questionamento que martela é por que medidas como essa só começam a ser consideradas quando as crises batem à porta? Segundo especialistas, o Brasil não faz planejamento satisfatório para enfrentar desequilíbrios hídricos, sobrando iniciativas protelatórias e emergenciais, como os racionamentos.

Nos últimos anos, até a maior cidade do País foi afligida pela estiagem, reflexo escancarado da falta de ações preventivas por parte dos gestores, uma vez que os índices pluviométricos históricos de São Paulo são muito superiores aos de capitais nordestinas, por exemplo.

Se até a cidade chamada popularmente de "terra da garoa" experimenta os efeitos da seca, significa que não há local algum incólume a eventuais problemas relacionados à água.

A própria ANA admitiu, em recente comissão no Senado Federal, que existe a tendência de que as tensões hídricas se tornem mais comuns, afetando regiões que antes recebiam chuva com abundância. E, justamente por isso, o planejamento é imprescindível.

No caso do Ceará, com sua vasta faixa litorânea, usinas de dessalinização são uma alternativa óbvia. Mas esses empreendimentos se encontram ainda em fase de estudo. As grandes obras, como a transposição do Rio São Francisco e o Cinturão das Águas são de imenso valor, mas quanto mais se diversificarem as fontes, maior a segurança de abastecimento hídrico que o Estado terá.