Prefeito de araque

Meados da década de sessenta. Faculdade de Direito da UFC. Vez ou outra, acontecia à visitação de tipos caricatas da Capital. Uns, objetivavam angariar poucos trocados. Outros, somente chamar a atenção da estudantada com seus disparates e trejeitos. Lembro-me bem de um. Frequentemente, buscava nossa "Turma de 69", do curso noturno, caracterizada pelo comportamento folgazão dos integrantes. De tão galhofeira, nos tratávamos por cômicos apelidos, da verve primorosa do inesquecível colega "Castorina". Aparência quarentona, estatura mediana, gordaço, esbranquiçado, falante e bem vestido. Pasta cheia de papéis, inseparável e segura pela alça. O olhar sempre atento aos lados. Dizia-se "em alerta contra os inimigos" e identificava-se como "Prefeito". O nome ninguém sabia ao certo. Mesmo nunca havendo sido candidato a cargo eletivo, afirmava que estava "procurando um advogado, pois queria voltar à prefeitura, que lhe tinham tomado e receber os salários não pagos". À época, a Boite 80 era prostíbulo de alto luxo, localizada na Rua Governador Sampaio, no número que a denominava. Para ali, o personagem foi levado e deleitou-se no festivo ambiente. Tratado de "Prefeito" pelos acompanhantes, ordenou uísque escocês e tira-gostos ao desejo dos presentes. Prometeu altas quantias às "damas" e angariou especial tratamento. Era "prefeito" pra lá e pra cá. Duas da madrugada. Hora de fechamento dos cabarés. "Excelência" encontrava-se abandonado. Despesa altíssima. Sozinho e sem dinheiro. Levou bruta surra e, depois, jogado para fora.Cheio de equimoses, dia seguinte, estreou na mídia citadina.

Geraldo Duarte. Advogado e administrador